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Conto : Júlia no país das estrelas !

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Published by admin3132 on 10 février 2020
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Illustration: Diane Ansault

Moro numa estrela. É a verdade. Aos seis anos não se mente.

Moro sozinha. Mas não tenham pena. Foi escolha minha. Estou aqui em missão secreta! Chiu!

À minha estrela devem ter dado um nome, mas eu não sei qual é, por isso decidi, já que sou a única habitante e penso que a isso tenho direito, de a renomear. Pensei durante muito tempo, não queria cometer um erro misturado de remorsos. Afinal, um nome é para sempre. Pensei, pensei, pensei e decidi dar o nome de Margarida. Dar um nome de uma flor a uma estrela, que, para mais, era o da minha melhor amiga no jardim de infância, acho que é uma ideia que a minha avó chamaria de brilhante. Na Terra, o meu pai quer que eu faça ballet, por ser uma dança para as meninas bem-comportadas, mas eu quero é ser astrofísica. Aprendi esta palavra num livro da biblioteca da escola. Eu ainda mal sabia ler – a educadora Catarina ensinou-me a colar as letras – e decorei esta palavra como se disso dependesse a vida da pessoa que mais amo no mundo.

Com um só olhar, vejo a Terra inteira. Observo com deslumbre o planeta, que outrora fora a minha casa, feito de azul, de branco, de castanho e de verde. Parecem pedaços mordidos de bolachas de chocolate e pistácio a flutuar no oceano. Posso ouvir todas as vozes do mundo, todas as pulsações de todos os corações, sinto que poderia agarrar nesta esfera e com ela jogar à bola ou ao berlinde e então penso que passei diretamente de pretendente a astrofísica a deusa. Mas não sintam inveja. Sou o ser mais forte do Universo e, no entanto, apesar de tantos poderes, ainda não consegui realizar o único desejo que me arde no estômago. É por isso que estou aqui: para cumprir a minha missão! Chiu! É segredo.

Dizem que muitas das estrelas que vemos no céu já morreram. Na terra, continuamos a ver uma imagem de algo que já lá não está, porque a luz que nos entrega a imagem demora tempo a chegar até nós. Mas eu não entendo. Se a vemos é porque ainda existe. Não acham? Eu sei que a minha avó existe porque ainda a sinto no meu coração. E basta fechar os olhos para me lembrar do cheiro adocicado da sua casa, do sabor da torta de cenoura que só ela sabia fazer, do contacto fofinho entre a minha bochecha e o casaco de malha azul que ela usava o tempo todo, fosse inverno ou fosse verão, e do som da sua voz meiga quando me dizia, enquanto me abraçava: “Júlia, tu és a menina mais inteligente e bonita do mundo!”.

Nunca lhe disse, e nunca o direi a ninguém, mas as suas mãos impressionavam-me, pareciam frutos ressequidos pelo sol da Caparica. Eu não gostava de olhar para as mãos da minha avó, mas gostava quando ela me tocava para fazer penteados bonitos, que não me faziam doer a cabeça como aquele horrível que tenho de usar quando faço um espetáculo de ballet. Sabem, a minha avó também fazia espetáculos para mim, ela cantava muito. Lembro-me de uma canção numa língua que eu não conhecia e que ela aprendera com uma amiga no trabalho: Auprès de ma blonde/Qu’il fait bon, fait bon, fait bon/Auprès de ma blonde/Qu’il fait bon dormir! A minha avó tinha orgulho em mostrar que sabia uma canção estrangeira. Não sei se ela compreendia o que estava a cantar, cá eu nunca soube o que significava, mas ainda gosto de a trautear.

Um dia, o avô apareceu sozinho em nossa casa e o meu pai chorou. “A avó foi morar para uma estrela”, disseram-me. Fiquei perplexa. As pessoas grandes são algo excêntricas, e eu habituei-me a não compreender tudo. Mas aquilo fazia-me cá confusão. Porque é que nos havia ela abandonado? Todos gostávamos dela. O que de tão importante haverá nas estrelas para ela as preferir a nós? Para mim eram só uns pontinhos luminosos no céu. E como fez ela? Com que veículo viajou para as estrelas? Eu perguntei ao pai e ao avô “A avó sabe conduzir naves espaciais?”. Eles não responderam, estavam ocupados a chorar, e eu entendi. Eu não chorei, devo dizer que estava mais curiosa do que triste. Acham-me má? Mas eu não sou, muito pelo contrário, achei que teria todos os argumentos para a convencer a voltar para casa. Queria fazer uma surpresa a toda a gente. Quero ver o meu pai, a pessoa que mais amo no mundo, feliz. Ando à procura da minha avó. É essa a minha missão.

Illustration: Diane Ansault

 

Passo grande parte do tempo na minha estrela à espera da minha avó, a olhar… a olhar para o infinito.  Anseio vê-la toda sorridente trazida por uma estrela cadente. Mas agora que aqui estou, tomo consciência da infinidade do universo e tenho medo de nunca a encontrar. Penso no acaso, é uma palavra que a minha avó gostava de usar. Ela dizia-me “Júlia, não há destino só há felizes acasos!” Eu não compreendia o que ela queria dizer, mas não lhe perguntava o significado daquilo, pensei que um dia descobriria por mim mesma. Ainda não a compreendo, mas aqui estou eu à espera de um feliz acaso.

Enquanto aguardo, penso nos argumentos para a convencer. Penso em dizer-lhe que a nossa vida sem ela é mais pobre e, ao mesmo tempo, creio que a sua existência já enriqueceu a minha vida para sempre. Julgo que é injusto obrigá-la a fazer-me feliz. Se ela decidiu partir é porque achou que era melhor para si. Agora sim, sinto-me má e egoísta. Nunca tinha pensado nisto.

Sinto a minha estrela a tremer. Levanta-se uma nuvem de partículas de ouro. Não consigo ver nada à minha frente. A poeira começa a reviravoltear e transforma-se numa figura humana que me sussurra numa voz de vento “Júlia, tu és a menina mais inteligente e bonita do mundo!” Percebi então que havia muito que encontrara a minha avó, mas ainda não o sabia.

Afinal, a minha avó era a minha estrela.

E as estrelas não podem viver na Terra. Elas iluminam-nos à distância.

As partículas de ouro entraram-me para a garganta e eu não lhe pude responder. Pensei, porém, no feliz acaso de, com tantas estrelas no céu, eu ter calhado logo de morar na da minha avó.

– Júlia, despacha-te, vais chegar atrasada ao ballet.

Olhei ainda uns instantes para o céu da janela do meu quarto e disse para mim mesma: “Adeus avó, eu já volto!”.

– Pai, para os meus anos… afinal… quero um telescópio!

Luísa Semedo – 2017
capmag@capmagellan.org

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