Nova Inglaterra tem sido um dos principais destinos migratórios para portugueses, oriundos sobretudo dos Açores que se têm instalado, ao longo de mais de 150 anos, nalgumas das suas principais cidades e áreas metropolitanas multiculturais e multilingues, como é o caso de Boston. Não surpreende, pois, que uma variante linguística de contacto, influenciada pelo português micaelense, se tenha consolidado nesta região, fruto de múltiplas e complexas interações geracionais, locais e transnacionais. Parte dos descendentes destes portugueses, socializados nestas ‘comunidades de fala portuguesa’, inscrevem-se em cursos de língua portuguesa, como forma de desenvolver a sua identidade sociolinguística bi ou plurilingue. No entanto, deparam-se com um modelo de ensino do ‘Português como língua estrangeira’ sem qualquer conexão com a realidade local desta língua e, pior, com uma atitude de desvalorização estigmatizante da variante que lhes é familiar, o que leva muitos destes ‘heritage learners’ a desistirem destes cursos. Este é o ponto de partida de uma análise reflexiva sobre as tensões sociolinguísticas que perpassam o ensino do português-europeu em contextos diaspóricos, preso a uma forte ideologia de língua única/standard – monocultural, monolingue, classista, nacionalista e até neocolonial – que não reconhece como legítimas as variantes locais, recusando a diversidade interna do português como constituinte do património sociolinguístico das comunidades ‘emigrantes’.
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