Pwanga ni Puy ? Lumière ou Obscurité ?
C’est bien dans la lumière qu’avance ce nouvel album de Lúcia de Carvalho qui allie la douceur à la puissance, le sens et l’essence, la lumière et les racines profondes d’un arbre né en Afrique, dont les branches embrassent le monde, et fleurissent en chansons. Son nom, depuis le début, annonçait sa vocation. Lúcia dit la lumière, de Carvalho ( chêne, en portugais) : la force de l’arbre. De quoi résumer sa quête poétique et humaine : « enraciner la lumière ».
Lucia se produira au Festival au Fil des Voix le 11 février prochain. Mais avant ça, Cap Magellan a eu l’opportunité de l’interviewé :
Lucia de Carvalho: Eu acho que a música sempre esteve presente na minha vida. Começou durante à minha nascença em Angola porque a minha mãe cantava num coro na igreja e tocava piano. Ela gostava muito de transmitir música e danças para mim e para minhas irmãs. Enquanto estive em Portugal, também passava muito tempo com as minhas irmãs a cantar e a dançar. A gente preparava shows para as pessoas que nos vinham visitar. (risos)
Nesse momento, a dimensão de palco começou a entrar em jogo e aos 16 anos, comecei a dançar música tradicional brasileira, profissionalmente. Então a música para mim, sempre foi uma grande companheira desde que eu nasci. E agora que a minha mãe é avô, reparei que desde que ela veio morar aqui, os meninos cantam mais. Então pensei que realmente teve uma influência grande.
Lucia de Cavalho: O grupo Som Brasil foi realmente à minha base e se hoje na minha música o Brasil está muito presente foi graças a esse grupo. Foi aí que eu aprendi a linguagem percussiva e foi aí que eu realmente criei as minhas bases de linguagem musical porque até hoje o Brasil fica bastante presente apesar de neste álbum a gente ter ido buscar novas influências: orientais, Angola etc. Mas realmente, o facto de ter começado assim, me permitiu, de naquela época em que eu não tinha nem um contacto com africanos nem com a comunidade lusófona, guardar um contacto indireto com as minhas raízes, com as origens angolanas. Quando morávamos em Angola, passavam la músicas de todos os países lusófonos. Então para mim, o som brasil foi realmente aquela boia que a gente agarra e não larga.
Lucia de Carvalho: Na realidade calhou. Ser cantora não era o meu plano. Eu estava fazendo estudos de línguas (português, inglês e espanhol). Para mim a música era, nessa altura, um laser. A minha meta eram os estudos. Mas no momento em que acabei o primeiro ano de mestrado, eu tinha que escolher entre fazer o segundo ano de mestrado e parar de fazer música ou dedicar-me à música. Foi aí que me dei conta que na realidade o meu trabalho era a música e que os estudos eram o meu lazer.
Nessa época, decidi parar de cantar no grupo Som Brasil, após 7 anos. Eu tinha começado a cantar no grupo Som Brasil porque a cantora tinha viajado de volta para o Brasil e a final eu substituí essa cantora. Mas depois de sete anos, parei por causa dos estudos e foi um músico para quem eu trabalhava no Som Brasil, que reparou e me aconselhou. Dizia que eu parecia ter boas ideias para arranjos, para compor e perguntou se queria que me ajudasse a montar o próprio repertório. Naquela época disse “sim, porque não?” porque tinha umas músicas escondidas na gaveta e queria ver onde podia chegar. Então foi assim que fui colocando minhas ideias e foi muito graças a ele também que eu me dei conta que tinha esse potencial, diria, de fazer, de compor, porque as ideias vinham, mas ficavam numa gaveta e então foi aí que o processo começou a florescer.
Lucia de Carvalho: Ajudou sim, porque a Cap Magellan sempre me acompanhou e ajudou a divulgar o meu trabalho. Essa ajuda é mesmo de grande importância porque a gente fica fazendo música, mas se não tem aquelas pessoas que nos ajudam a passar a informação para o público, a nossa música fica por aí. Então agradeço muito a Cap Magellan que sempre esteve por aí a ajudar. E esse prémio, foi, importante simbolicamente, mas humanamente, para mim, foi uma coisa que me ajudou muito na autoestima e a acreditar mais no meu projeto.
Lucia de Carvalho: A verdade é que a inspiração me vem sozinha. Não consigo sentar e dizer que vou escrever uma música sobre um tema ou um ritmo em específico. Já tentei fazer isso, mas a página ficou branca. Então eu tenho a impressão de que grande parte do meu trabalho é procurar criar espaço, criar silencio na minha mente para que a inspiração chegue. E a inspiração quando ela chega, chega com a letra, com o ritmo e a melodia de uma só vez. Então, na realidade, a escolha não é 100% minha. Eu tento me deixar guiar pelo que a canção quer, pelo que a canção me inspira. E é verdade, que o reggae esteve mesmo presente porque é um ritmo que eu gosto muito. E aí, nesse novo álbum tem uma canção por exemplo que tem inspiração um pouco “gnawa” porque estive umas vezes nos Marrocos. A canção “Maria”, por exemplo, é uma homenagem a minha mãe que se chama Maria e a uma grande amiga também, irmã de alma, que se chama Maria. Há uns anos atrás, eu fiz uma iniciação a dança flamenco com ela então foi naturalmente que a canção me veio em espanhol porque ela é colombiana e a inspiração veio-me com influências de flamenco. E do resto, a gente chamou o Betinho Feijo que é o guitarrista do Bonga para a canção “Somar” e o percussionista Galiano Neto. Porque nessas canções, a gente queria dar um sabor mais angolano, bem autêntico. Mas a maioria das percussões foram feitas pelo percussionista brasileiro Zé Luis Nascimento que tocou com Mayra Andrade, Cesaria Evora, Tito Paris etc. E ele realmente sublinhou as músicas com um jeito que a gente não esperava. Ele tocou a essência de cada canção. Foi muito legal. É também importante dizer que para esse álbum, eu fiz essencialmente a composição porque depois eu passei o bebé para Edouard Heilbronn, onde a presença dele foi bem presente.
Cap Magellan: Qual é a sua canção que a representa mais?
Lucia de Carvalho: É complicado porque realmente cada música é uma parte de mim, é uma história do que eu vivi, do que eu senti. Então, acho que não tenho assim uma música que me representa mais do que outra. Eu buscaria mais o ponto comum entre as músicas que é o nome do álbum. Com Kuzola, estava em busca de sentido, em busca de origens e o facto de chamar esse projeto precedente de Kuzola, eu senti muito essa energia de união, de me sentir próxima do ser humano, de unidade. Como se o amor fosse aquela energia que une as pessoas de coração para coração e com esse álbum Pwanga, a necessidade que eu senti é vivenciar mais, sentir mais, experimentar mais essa essência das coisas. Essência única que nos une uns aos outros. Então o facto de este novo álbum “Pwanga” se chamar luz é a impressão que em cada canção, cada título desse álbum tem uma só palavra. Para mim é uma homenagem a unidade das coisas, mas também como se a final as palavras são só conceitos e o mais importante não é o que a gente diz, mas o que não se diz, o que não se vê. Como diz o Saint- Exuberry : “O essencial é invisível ao olho, a gente só vê bem com coração”. Então é isso. Para mim, o importante desse álbum mesmo é essa luz que eu quero sentir e esperar partilhar com as pessoas que ouvem as nossas canções no álbum e nos concertos.
Lucia de Carvalho: A escolha de ir para Angola foi porque estava na busca das minhas raizes. Fazia uns 30 anos que eu não tinha voltado e nessa época da minha vida era uma necessidade de voltar para Angola. E o Brasil sempre foi um contacto indireto com as minhas raizes, a música de coração. Como quem diria “ eu não nasci no Brasil mas o Brasil nasceu em mim!” Então para mim, é assim uma vontade de voltar nos lugares principais que eu sinto que fazem parte da minha identidade, que me ajudaram a construir a pessoa ou pelo menos a pessoa e a artista que eu sou. Foi por isso também, que a gente voltou para Lisboa, que foi uma parte da minha infancia muito linda e muito importante. Então são esses três países que realmente fazem parte de mim, diria da minha identidade cultural. Mas é verdade que, depois de todas essas viagens, o engraçado hoje é a impressão que a final o importante não é a nacionalidade, o importante é vivenciar.
Lucia de Carvalho: Para mim um album é sempre uma foto. É um album como poderia ser um album de fotos e cada música é como se fosse uma foto de um sentimento, de uma experiencia e esse album representa as coisas lindas, as perguntas, as dúvidas que eu vivi, senti, desde o album Kuzola. Então tem aquela canção “Saeli” que fala da vinda da primeira criança, tem a canção “Maria” que elogia essas mulheres, a minha mãe e a minha amiga, tem a música “Prktcracia” que interoga, por exemplo, o estado da democracia na nossa sociedade que tem a impressão que hoje em dia o povo manifesta, o povo se indigna, o povo assina petições na internet mas que ele não é escutado então essa musica significa “será que vivemos numa real democracia ou vivemos numa prktcracia?” E a canção acaba por uma forma de oração à senhora democracia, pedindo que ela volte, que ela nos respeite, que ela nos guie. Nós somos o seu povo, a gente escolheu, mas se possível a gente pode e sabe desobedecer.
Lucia de Carvalho: Tenho uma história engraçada sobre esse nome “Pwanga”. Uma amiga minha tinha viajado para Angola porque ela faz as pessoas escreverem textos de autoelogio para aumentar a confiança e a autoestima de si e ela fez esse trabalho com agricultores e agricultoras de uma pequena aldeia. No fim da estadia, ela quis fazer uma foto com o pessoal e ninguém sorria. Então ela perguntou para o tradutor: “O que é que posso dizer para as pessoas sorrirem?”. E eles disseram que tinham de perguntar “Pwanga ni Puy?” Isso significa Luz ou escuridão. E foi aí que eu tive realmente a vontade de chamar esse álbum “Pwanga”.
Lucia de Carvalho: Essa frase é uma visão que eu tive quando eu voltei da viagem de Angola. Foi enquanto eu estava preparando e não tinha ido antes a Angola porque não me sentia pronta, mas nessa época sentia que estava pronta. E, ao mesmo tempo, tinha assim uma grande esperança, uma vontade de viver uma coisa grande, uma coisa imensa. Então eu disse, eu vou para a Africa, vai acontecer alguma coisa de importante. Só que quando eu voltei, eu continuava sendo a mesma. Então fiquei um pouco decepcionada mas depois acordei umas semanas depois com essa imagem e então foi aí que eu entendi que essas viagens me permitiram ter uma visão harmoniosa, unificada da minha identidade que parecia não ter sentido que parecia não ter raizes, que parecia não ter estrutura. Então só o fato de poder estruturar essa visão que hoje em dia eu considero que pode mudar e que é normal e que é bom que ela mude. Como seres humanos, a gente vai continuando aprendendo, evoluindo, então é bem legal mas essa imagem me permitiu dar mais concistencia e aceitar que eu não sou nem portuguesa, nem francesa, não sou 100% angolana, não sou brasileira mas que a minha base é a mestizagem e é essa mestizagem que se vê na minha música.
Lucia de Carvalho: Projetos para o futuro, sim! A gente está aí a preparar os concertos. Eu, na verdade, ainda estou bastante emocionada com esse album que acabou de sair, o videoclip que a gente fez com o Chico César que também saiu dia 12 de janeiro. Foi um encontro muito lindo de partilhar. Não somente a fazer essa colaboração com esse grande artista que eu gosto de ouvir muito e encontrei ele no momento em que a gente fez o videoclipe. Ainda estou muito emocionada e muito agradecida pelos musicos que participaram no álbum e trouxeram muita luz e agora para a frente vai ser o momento de fazer shows, de fazer concertos, a gente vai tocar perto de Lyon no dia 3 de fevereiro e feliz da vida por poder tocar aqui em Paris, nesse grande festival que a gente gosta muito. Agora é só viver o momento presente porque também desde o album Kuzola até agora, a gente tem um parceiro, o Zamora, que ajuda. Isso ajuda muito na carreira de um artista, de ter assim uma equipa que ajuda. As pessoas vêem o que um artista faz mas isso é possível porque a gente tem uma equipa com gente que nos leva, que nos porta e que nos eleva.
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