A realizadora, lusodescendente, nasceu em Tours, onde os seus pais se instalaram depois de terem deixado Portugal. Cristina Pinheiro cresceu num ambiente de dupla cultura o que a levou a “sentir um amor particular pela linguagem”. Começou a sua carreira como atriz e realizou e produziu em 2002 a sua primeira curta metragem que se intitulava “Morte Marina”. Em 2012 volta a realizar uma curta-metragem, “Liga”, produzida por Easy Tiger com Helena Noguerra e Nanou Garcia.
Esta primeira longa-metragem, produzida pela Mezzanine Films, foi iniciada no âmbito do atelier de escrita de argumento da conceituada escola de cinema FEMIS. O argumento foi selecionado para o Festival International des Scénaristes, e gravado no verão de 2016 com um casting franco-português.
O filme conta, assim, com a participação do ator português Nuno Lopes, nascido em Lisboa em 1978, que fez os seus primeiros passos com Marco Martins e José Álvaro Morais. Alternando teatro, cinema e televisão, foi recompensado com vários prémios, nomeadamente para as suas interpretações em filmes como “Alice”, “São Jorge” e “Posto Avançado do Progresso”, estes últimos exibidos recentemente em França. Nuno Lopes participou, igualmente, no filme francês “Cadences Obstinées” com Fanny Ardent.
O filme conta também com a interpretação da atriz Beatriz Batarda, nascida em Londres em 1974, mas que cresceu em Lisboa. Tem um diploma da London Guildhall School of Music and Drama e construiu a sua carreira em torno do teatro e do cinema, tendo já participado em filmes de José Álvaro Moraix e Manoel de Oliveira.
O personagem principal, interpretado pela jovem atriz francesa Naomi Bitton, é Luísa Palmeira, uma menina lusodescendente de 10 anos cujo pai desaparece. Naomi Bitton já se tinha estreado na curta metragem “L’homme qui en connaissait un rayon” de Alice Vial. A jovem atriz francesa não sabia nenhuma palavra em português e foi ajudada pelo ator Nuno Lopes para conseguir dizer corretamente algumas das falas do seu personagem nessa língua.
O argumento é, segundo a realizadora, um pouco autobiográfico visto que ela própria perdeu os pais e teve a impressão de perder as suas raízes. Com este filme a realizadora pretende honrar a memória dos seus progenitores. A temática da dupla cultura e da identidade são algumas das problemáticas presentes no filme. Segundo a realizadora, as questões de identidade nacional tão faladas na altura fizeram-na questionar o que é ser francês quando se tem pais portugueses, quando se nasce em França e se é instruído na Escola da Republica. Luísa necessita de construir a sua própria identidade, fora do contexto familiar, e tem como dilema escolher entre ser francesa ou portuguesa. A realizadora confessa ter vivido esse mesmo impasse.
Luisa Semedo
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