No dia 2 de novembro o Théâtre des Bouffes du Nord em Paris foi o palco de um concerto excecional de Rodrigo Amarante. O espetáculo estava inserido na programação da quarta edição do Festival Worldstock que teve lugar entre os dias 1 e 12 de Novembro, com uma seleção de treze artistas de música do mundo, como a espanhola Andréa Motis, o senegalês Cheikh Lô ou ainda a tunisina Emel Mathlouthi.
O público português e brasileiro já conhecia o Rodrigo Amarante através do seu primeiro grupo Los Hermanos, grupo que ficou sobejamente conhecido através do seu single de maior sucesso “Ana Júlia”. Entretanto Rodrigo Amarante deixou os seus companheiros de Los Hermanos, nomeadamente Marcelo Camelo, que também se lançou numa brilhante carreira a solo, e fundou o grupo Orquestra Imperial, LittleJoy e Devendra. Em 2013 principiou enfim a sua trajetória artística pessoal num belíssimo álbum de estreia, intitulado “Cavalo”. E em 2015 ficou mundialmente conhecido graças à sua música cantada em espanhol “Tuyo”, canção de abertura da série televisiva da Netflix “Narcos”.
O concerto estava previsto para começar às 20h30, o artista chegou pouco tempo depois. E foram duas horas de concerto em que a sua guitarra, piano e voz preencheram a magnífica sala de espetáculos. O espaço do Théâtre des Bouffes du Nord, foi construído em 1876 e cruzam-se ali o teatro e a música, não somente a opera, mas igualmente o jazz, e tantos outros estilos musicais atuais, sem esquecer o fado, como, por exemplo, a atuação em novembro de 2015 da fadista Katia Guerreiro.
Rodrigo Amarante cantou em português, inglês e espanhol. Esforçou-se por falar em francês com o público, mas a assistência gritava entre as atuações “Lindo!” denunciando a origem brasileira de uma boa parte do público. Amarante também cantou em francês o refrão da canção “O não pedido de casamento” (J’ai l’honneur de ne pas te demander ta main/Ne gravons pas nos noms au bas d’un parchemin), uma versão em português de “La non-demande en mariage” do grande Georges Brassens, a quem o cantor fez questão de prestar homenagem. O artista cantou não somente as canções do seu álbum a solo mas igualmente alguns títulos do seus antigos grupos.
O estilo de Amarante compõe-se sobretudo de baladas, muitas delas tristes e melancólicas, mas o cantor consegue cantá-las de sorriso nos lábios, sem nunca cair no pathos, e ao mesmo tempo respeitando a profundidade das suas letras e melodias. O cantor confessou, divertido, que é oferecendo a tristeza, que põe na sua obra, ao público que ele mantém a sua alegria.
A emoção do artista de poder cantar em Paris a tantos quilómetros do seu país e de ter a sala cheia foi visível. Comovido, agradeceu o público por ter escolhido passar aquele momento das suas vidas naquele espaço, para o ouvir.
Amarante acabou o concerto, punho levantado, com a sua canção, de cariz mais politizada, “Um milhão”, que comporta os emblemáticos versos “Pra cada um com um milhão, um milhão sem um sequer”.
O público saiu ainda com o brilho nos olhos e um sorriso nos lábios de uma atuação sem falhas, onde o talento tanto instrumental como vocal foram uma constante. O carácter universalista da obra do cantor, nomeadamente através da utilização de várias línguas inseria-se perfeitamente na temática deste festival. Esperamos já com ansiedade a próxima atuação de Amarante por terras francesas. E podemos orgulhar-nos e regozijar-nos do privilégio de ter um artista de tão grande qualidade a levar a língua portuguesa por esse mundo fora. Saravá Rodrigo!
Luísa Semedo
Crédit photo : Fabricio Vianna
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