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2 janvier 2021Com o lançamento do seu novo álbum “Canta Amália”, produzido pela Warner Music, a Cap Magellan teve a oportunidade de entrevistar, por telefonema, a cantora e fadista Mariza. Este novo álbum presta homenagem à pioneira do fado: Amália Rodrigues.
Cap Magellan: Com que idade é que descobriu que gostava de cantar?
Mariza : Vou ser sincera, nunca descobri que gostava de cantar. De facto, o meu pai deu-me o nome de Mariza por causa de uma cantora que ela amava. Eu nasci prematura como o meu filho, nasci de 6 meses e os meus pais já tinham pensados ter muitos filhos, ou seja, durante 7 anos tentaram ter filhos e não conseguiam. E quando eu nasço, há 47 anos atrás, um filho prematuro não era a coisa mais fácil, não é como hoje. Nesta altura, o meu pai faz uma promessa porque achava que eu não ia sobreviver, mas se eu sobrevivesse, o meu nome ia ser Mariza por causa duma cantora brasileira que ele gostava muito, que se chamava Marisa Gata Mansa. E que se eu ia ser Mariza, ia ser cantora, e aqui estou eu. Então, eu não me lembro como é que começou o gosto por cantar, nem me lembro do primeiro brinquedo se quer, lembro-me do primeiro fato quando começai a cantar. Acho que nunca foi uma pretensão minha, não acho, tenho a certeza, de me tornar uma cantora conhecida. Mas aconteceu assim e eu aceito e hoje gosto muito e o trabalho muito para que tudo isso continue a acontecer.
Cap Magellan: Começou logo a cantar fado ou foi um processo de descoberta?
Mariza: Eu nunca me apercebi que isso iria acontecer. As coisas na vida me foram acontecendo. Situação atrás de situação. Porque eu canto desde muito pequena. Também nunca foi como a outras crianças: “O que é que queres ser quando fores grande? Quero ser médico”; nunca quis ser nada, mas também nunca me passou pela cabeça ser cantora. É algo que eu tenho como adquirido, é como respirar. Nós respiramos sem pensar, e eu canto sem pensar.
Cap Magellan: Que relação é que tem com o público aqui em França, tendo em conta que ele é constituído em grande parte pela comunidade portuguesa, mas com o público verdadeiramente francês qual é o feedback que tem?
Mariza: Nos meus concertos em França são cerca de 60% portugueses e o resto é público local, ou seja, 40% francês. A relação que eu tenho, como eu sou muito má a falar francês, é uma relação de muita parcimónia, ou seja, como tenho com qualquer público de muito respeito, mas com muito cuidado porque como eu não sou fluente em francês, como sou em inglês, a apresentação do concerto, a minha própria apresentação, é mais tímida porque tenho mais receio de errar quando falo, mas de resto, sou recebida com um carinho gigante todas as vezes que me apresento em França, de um respeito enorme e tenho na minha cabeça que é um público que me considera bastante.
Cap Magellan: E a responsabilidade de representar a cultura portuguesa no fundo, é mais pesada aqui ou quando se atua em casa?
Mariza: É igual em qualquer parte do mundo. Eu levo essa responsabilidade em cima das costas. Eu levo Portugal com grande respeito, canto Portugal com grande respeito. Ser em França, ser na Bélgica, ser na China, ser na Austrália, nos Estados Unidos o respeito é igual.
Cap Magellan: E neste novo álbum, a homenagem que presta, que já tive a oportunidade de ouvir, podemos dizer que esta homenagem é cada fez mais a uma das suas grandes inspirações e influências?
Mariza : Pode-se dizer que sim, a Amália será sempre a grande influência da melhor parte das cantoras em Portugal que cantam fado. Eu não conheço uma única cantora que canta fado em Portugal que não canta um tema de Amália, o legado que esta Senhora nos deixou. Esse disco já tinha sido pensado há muitos anos eu sempre disse que um dia quando tivesse a maturidade suficiente para o fazer, quando tivesse um à vontade para o fazer, seria feito. E seria feito dentro da minha forma de cantar, eu não pretendo ser Amália nem quero ser Amália, nunca foi essa a minha intenção.
É um disco que tenta reviver todo um legado maravilhoso que Amália nos deixou. Mantendo o nome da Amália vivo, mantendo as suas canções, toda esta herança. Mantendo-a viva fazer parte, trazendo-a de volta à vida de muita gente. Tentendo de alguma forma chegar a uma geração, com miúdos de agora de 15,12,18 anos que a maior parte deles não sabem quem é Amália. Também tentando trazer para um público mais jovem toda esta beleza musical.
E fazendo desta obra, que é este disco feito com orquestra, com um maestro, Jaques Morelenbaum, gravado entre Rio de Janeiro e Lisboa, fazendo deste disco algo intemporal que possa ser ouvido de qualquer tipo de geração, mas também em qualquer parte do mundo e pode ser ouvido hoje como daqui a 20 anos.
Cap Magellan: Pode definir um tema preferido nesta última obra?
Mariza: É difícil, é como dizer a uma mãe que tem que escolher um filho. É difícil porque os temas foram todos escolhidos por mim. Quando foi para o Rio de Janeiro gravar havia mais de 20 temas que gostaria do ter cantado, seria muito difícil para um disco com orquestra ter tantos temas. Depois escolhemos só dez, desses dez foram escolhidos os que para mim mais representavam o legado de Amália Rodrigues e que melhor representava também o povo português e toda aquela imagem que temos de Portugal. Talvez, se eu escolhesse um tema tirando “Lágrima” (que é o single deste disco) talvez escolhesse o “Fado Português” ou “Escravo de papel” que algo mais alegre.
Cap Magellan: Relativamente a esta fase complicada da crise sanitária que toque em muito todos os nossos artistas, como é que é preparar nestes tempos de covid-19 uma tournée?
Mariza: Bem as tounées não existem este ano. Este disco já devia ter saído mais cedo, e só sai agora devido ao ano atípico pelo qual estamos a passar. Está extremamente difícil. Este ano faria 110 concertos, e de repente passamos a 5. Considero-me ainda uma privilegiada porque há colegas que nem essa oportunidade tiveram. É um ano extremamente brutal para nós, porque quem canta, canta a sua própria alma e os artistas necessitam do palco para se exprimir. Não há palco, não há palmas, não há público, não há concertos. Estamos tristes, reservados…À espera de melhores momentos para darmos uma reviravolta a isto tudo!
Cap Magellan: O confinamento foi uma oportunidade para projetar numa nova obra?
Mariza: Não, não, esse tempo foi inteiramente dedicado a este novo disco. Este é o novo bebé! Os olhinhos estão postos aqui, pois foi um disco que deu muito trabalho! Principalmente por este tempo tão atípico, deu muito trabalho fazê-lo e terminá-lo! E depois claro, todos os aspetos negativos que da pandemia decorreram… O não conseguir apresentar o disco com orquestra como eu pretendia, não podermos viajar e apresenta-lo ao vivo, promovê-lo… Portanto, em 2021 eu vou continuar a apresentar este disco e espero que no final de 2021, em dezembro, eu consiga fazer um grande concerto em Lisboa e apresentar este disco conforme ele merece!
Cap Magellan: De toda a sua carreira, qual foi o maior obstáculo que já teve que enfrentar?
Mariza: O maior obstáculo foi a Covid-19! Não poder abraçar e ver o público, o medo… Agora quando piso um palco parece que estou a recomeçar a fazer tudo de novo… O maior obstáculo de todos foi, realmente, não poder cantar… E não ter esta oportunidade, é como se faltasse alguma parte de mim!
Cap Magellan: Para terminar, uma curiosidade pessoal, será que algum dia vamos ter a oportunidade de ouvir a Mariza a cantar outros estilos de música?
Mariza: Porque não? Tudo é possível. (Gargalhadas) Não faço ideia do que poderia ser! Tenho que me sentar e pensar nisso! Mas porque não!? Tudo é possível!
Ficamos eternamente gratos, desde já, à Mariza pelo tempo precioso que nos disponibilizou e, claro, à toda a sua equipa que tornou esta entrevista possível
Mais informações sobre o concerto em Paris de 2022 aqui
Joana Carneiro e Claire Pimenta