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5 mars 2024No dia 5 de Janeiro de 2024, a editora Chandeigne publicou uma nova tradução de Valério Romão sob o título Dix raisons de vouloir être chat. No dia 6 de Fevereiro, o autor Valério Romão veio a Paris para uma apresentação do livro dele na Fondation Gulbenkian de Paris. Ofereceu-nos uma entrevista exclusiva.
Cap Magellan: Boa tarde, espero que esteja tudo bem contigo ! Estamos hoje na Fondation Gulbenkian em Paris, para a apresentação do teu livro Dez Razões para Aspirar a ser um Gato, traduzido em francês e publicado pela editora Chandeigne há já um mês! Aliás todos os teus livros foram traduzidos e publicados em França pela Chandeigne. É uma honra? Um objetivo?
Valério Romão: Não era propriamente um objetivo consciente. Quando comecei a publicar em Portugal, pensei que eventualmente, com o sucesso relativo que o Autismo teve em 2012, pudesse haver alguém interessado por publicar os livros fora de Portugal. Pois era um assunto relativamente pouco tratado na literatura e às vezes mal tratado. A Anne, que está sempre atenta à literatura portuguesa como é a tradição na Chandeigne que publica muitos clássicos da língua portuguesa, reparou no livro e quis publicá-lo em França. Aceitei e não estou nada arrependido de o ter feito! Já fizemos um caminho muito interessante e agora é continuar! Sinto-me em casa na Chandeigne.
Cap Magellan: E porque França em particular? Será que é porque temos uma grande comunidade portuguesa?
Valério Romão: Já foi publicado na Itália, na Suécia e no Reino-Unido. De facto, tenho uma relação especial com a França, também porque nasci aqui, e é uma terra de literatura e de cultura. Foi uma grande satisfação ter publicado cá e continuar a ser publicado cá, ainda por cima numa editora como a Chandeigne.
Cap Magellan: Como é que o livro Dez Razões para Aspirar a ser um Gato foi recebido em Portugal?
Valério Romão: Em Portugal foi publicado por uma editora muito pequena, portanto naturalmente não teve a recepção que está a ter em França, por uma questão de dimensão. Mas foi bem recebido, embora não tenha tido uma distribuição como aqui. Também foi publicado há mais tempo, por isso não consigo muito bem comparar.
Cap Magellan: Em 2012, publicaste Autismo que fez muito barulho em Portugal. Dez Razões para Aspirar a ser um Gato é uma história totalmente diferente, que não tem a ver com a família. O que tentaste transmitir ao leitor?
Valério Romão: Com este livro não estava propriamente preocupado com o leitor ou com qualquer tipo de mensagem: queria mais mostrar o quão divertido e o quão importante para mim era o assunto dos gatos. No fundo, são das pequenas histórias que têm a ver com a noção de diversão e de intimidade, de alguma inveja também de ter uma vida como a vida de um gato doméstico.
Cap Magellan: Porquê sempre uma gata preta e um pouco gorda?
Valério Romão: Porque era a minha gata na altura! Foi a musa do livro e é sempre ela que aparece em todas as histórias. O livro é-lhe dedicado! Ficou comigo até 2014, portanto ainda viveu bastante tempo, bem e feliz.
Cap Magellan: No livro temos dez histórias distintas, com dez aspetos de vida totalmente diferentes, que constituem as dez tais razões. Inspiraste na tua vida, na vida dos outros ou é tudo imaginário?
Valério Romão: Na verdade não há uma resposta honesta para isto, porque não sei até que ponto não vi determinada situação ou não assisti a determinado acontecimento que depois recuperei na literatura. Não sei exatamente se posso dizer que é tudo imaginário. Provavelmente há histórias que têm um lado de experiência de vida, que depois modifiquei para torná-las um conto, e há histórias que naturalmente terão sido inspiradas em coisas das quais já nem me lembro sequer!
Cap Magellan: Acho a tua escrita bem singular, com jogos com as maiúsculas e a pontuação. Como é que escreves? Como é que escolhes?
Valério Romão: Tem principalmente a ver com adaptar a pontuação ao ritmo do texto. Vejo isto de uma forma musical, como se o texto fosse uma espécie de partitura com uma cadência própria, e vou adaptando a pontuação àquilo que eu acho que é a respiração do texto. Não é algo que possa definir com grande clareza, mas é uma espécie de sensibilidade para aquilo que me parece ser a cadência, a musicalidade, a harmonia e o ritmo próprio do texto.
Cap Magellan: Quais são os escritores que te inspiram mais?
Valério Romão: Vou lendo quando posso, quando tenho tempo. Gosto de ler claro, não se pode escrever sem se gostar de ler. Tenho bastantes influências portuguesas como António Lobo Antunes, Eça de Queirós, ou alguns mais contemporâneos, pessoas que estão a escrever neste momento, que me fazem ver as coisas doutra forma. Por exemplo, já traduzi Welbeck para português. Gosto muito do Balzac. Depois vou um pouco por todo o lado à procura da minha família.
Cap Magellan: Quais são os teus futuros projetos?
Valério Romão: O meu projeto é acabar um romance este ano. Gostava de o publicar no final deste ano ou no início do próximo. Vamos ver! Ainda não sei, porque depende de ter tempo para escrever, esse é o principal problema.
Cap Magellan: Para acabar, a pergunta que faço no final de cada entrevista: tens uma mensagem para os jovens lusodescendentes?
Valério Romão: Não percam o português como língua. Não que seja uma língua que lhe está a dar qualquer tipo de futuro radioso no mundo, mas faz parte das raízes que têm e uma língua a mais nunca está a mais, qualquer que ela seja. É outro tipo de pensamento, de mundo e invoca outras ideias que podem ser postas a uso em qualquer sítio!
Cap Magellan: Obrigada Valério! Já estou ansiosa para ler o próximo romance.
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Não hesite em comprar Diz raisons de vouloir être chat, disponível no site da editora: https://editionschandeigne.fr/livre/10-raisons-de-vouloir-etre-chat/
Entrevista realizada pela Julie Carvalho,
de Os Cadernos da Julie.