Euro 2024 : Un choc en quarts de finale entre le Portugal et la France
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11 juillet 2024No final do mês de junho, a jovem cantora Júlia Machado veio a Paris para visitar a capital francesa. A Cap Magellan teve a sorte de a receber para uma entrevista exclusiva!
Cap Magellan: Olá Júlia, espero que esteja tudo bem contigo! Há um ano vencestes a competição The Voice Kids em Portugal com o Fernando Daniel e há seis meses representaste Portugal na Eurovisão Júnior em Nice. Não querias ser veterinária?
Julia Machado: Eu quero ser veterinária mas o problema é que isso implica muita escola e eu já estou farta da escola. Mas a minha ideia é de ser mais cantora do que veterinária, mas se cantora não for, vou ser veterinária ou bióloga marinha.
CM: Tu cantas em português e em inglês. Já publicaste dois singles: a canção da Eurovisão Where I Belong e a nova Rollercoaster. Se não me engano, as duas falam da tua identidade luso- americana, do teu laço à lusofonia, da tuadupla cultura. Como é que consegues, aos 13 anos, falar desses assuntos? Como é que te sentes enquanto lusodescendente?
JM: Desde de pequena digo à minha mãe que ela estragou a minha vida quando veio viver para América porque adoro Portugal e quero estar sempre lá. Na América não temos família de sangue, só amigos que ajudaram os meus pais. Sinto-me mais livre em Portugal, posso estar mais tempo com os meus amigos, estou no quintal com as ovelhas a correr com os meus primos ou na brincadeira com o cão, estou menos no telefone, etc. Divirto-me mais em Portugal lá fora do que dentro de casa fechada na América. E a comida é muito boa em Portugal.
CM: As tuas músicas são mais dirigidas a um público lusodescendente ou também aos americanos?
JM: As minhas músicas são para toda a gente porque as minhas músicas falam de ser lusodescendente mas falam também de uma história pela qual, infelizmente, muitas pessoas passam: o bullying. Eu própria passei por isso mas já acabou e estou muito feliz na minha nova escola. As minhas músicas mostram que podemos estar num lugar muito escuro mas é possível conseguir sair da escuridão e encontrar um lugar feliz. É só preciso de força, alguém ao nosso lado, ou encontrar alguma coisa que gostamos muito de fazer e ajuda-nos a sair da escuridão. Para mim foi a música.
CM: O bullying foi por causa de seres portuguesa ou foi por seres cantora?
JM: Foi de muitas coisas. Sou diferente porque tenho muita energia, estou sempre a cantar. Porque era portuguesa e que vestia-me diferente, estava sempre muito feliz e ninguém gostava muito disso. Eles queriam que ficasse calada. Desde dos 6 anos até aos 11 anos foi quando estava a passar pelo bullying e cada ano estava a ficar pior. Cada vez que alguém me perguntava quem eu era, eu dizia “Sou a Julia Machado e sou portuguesa”. Tenho muito orgulho em ser portuguesa. Aliás, nunca vou parar de ter orgulho nisso porque os portugueses e as comunidades portuguesas são incríveis e o apoio que eles me deram enquanto estava no The Voice Kids, na Eurovisão, até agora é incrível.
CM: Eles tinham inveja?
JM: Não gosto de pensar assim, mas infelizmente se calhar sim. Acho que as pessoas não deveriam ter inveja, deveriam ficar felizes como eles próprios porque nós todos somos diferentes por uma razão. Como a minha mãe diz: “se nós todos gostássemos de batatas fritas, o que é que ia acontecer com o resto da comida?”
CM: Já que falaste do The Voice Kids, tenho uma pergunta de um fã teu: como é que pensaste em fazer o The Voice Kids Portugal?
JM: Na América, não existe The Voice Kids, só começa a partir dos 14 anos. Como só tenho 13 e que só vou fazer 14 neste verão, estava todos os anos a pensar nisso. Também andava a dizer que a minha mãe estava a arruinar a minha vida porque não me inscrevia nesses concursos. Estava sempre a cantar e sempre a perguntar à minha mãe se podia ir ao The Voice Kids, ou Got Talent. A minha mãe só me inscreveu no ano passado porque pensava que eu já estava preparada para ouvir um “não” e também porque a minha voz já estava preparada. Desde os 6 anos tenho aulas de música: treinar a minha voz, como usar técnicas novas, etc. Porque é incrível como sempre aprendemos algo sobre a música. Quando acho que consegui fazer uma coisa ainda há mais coisas a melhorar.
CM: Tocas algum instrumento de música?
JM: Tentei aprender como tocar o cavaquinho, mas foi muito difícil. Mas eu gostaria de tentar aprender o piano. Aliás, ontem quando estava à espera do avião, estava com os meus fones e o meu Ipad a tocar o piano, a aprender novas músicas.
CM: Como é que aprendeste o português nos Estados Unidos?
JM: Estou sempre a perguntar à minha mãe qual foi a minha primeira palavra, se foi em português ou em inglês. A resposta é que a minha primeira palavra foi “chata” (risos). Falamos em português em casa. Também estive numa escola portuguesa onde aprendi a ler e escrever o português.
CM: Além da música e das aulas portuguesas, como é que consegues manter uma relação com Portugal?
JM: Tinha 9 meses quando fui pela primeira vez a Portugal e desde então, vou para Portugal todos os verões. Sempre fico um bocadinho na casa dos meus avós e depois vamos para a Nazaré. Temos os nossos amigos e primos que ficam perto de nós. Depois vamos todos para a praia. Acho que isso ajuda muito a manter uma ligação com Portugal e também a comida lembra-me muito Portugal, em particular a comida da minha avó. Gostaria muito de viver mais tempo em Portugal.
CM: Agora que cantas como é a tua vida? Como é que se passa?
JM: Eu não vou mentir mas tenho dias em que não quero fazer nada mas tem que ser porque tenho que trabalhar para chegar mais longe. Há coisas boas e coisas más: por um lado, divirto-me imenso no palco, estou a seguir algo que me faz sentir feliz, posso interagir com o público, os nervos saem todos. Por outro lado, há dias em que não posso sair com os meus amigos, não posso gritar se for a um concerto, não posso beber água fria, não posso comer chocolate antes de cantar apesar de eu adorar chocolate, etc.
CM: Durante a Eurovisão como é que foi? Havia um bom ambiente? Guardaste o contacto de um outro candidato?
JM: Estávamos sempre na brincadeira. Tive no Natal ao pé da menina da Irlanda, a Sophie Lennon, ela foi a Nova Iorque e estivémos juntas. Guardei contactos comalguns meninos e vêm aí alguns projetos dos quais não posso falar ainda.
CM: Quais são os teus futuros projetos?
JM: Tenho uma música que provavelmente estará pronta para o final do verão. Também comecei a trabalhar com um produtor dos Estados Unidos e comecei a escrever as minhas letras. Vamos passo a passo.
CM: Como é que fazes para escrever?
JM: Estou sempre com a cabeça num outro mundo quando faço música. De repente vêm-me palavras e começo também a cantar a melodia. Where I Belong e a Rollercoaster não fui eu que escrevi. O João Direitinho, a Aurora Pinto e o Fernando Daniel escreveram a Where I Belong. O João Direitinho, que é uma pessoa muito especial para mim, escuta sempre as minhas ideias, conversamos sobre os meus sentimentos. Para Where I Belong, ele estava a brincar com uma guitarra enquanto que eu estava a contar-lhe a minha história de bullying e juntos fizemos nascer alguma coisa muito especial que conta a minha história. Mas algo que aprecio muito é que, com o João Direitinho ou mesmo com o produtor americano, eles estão sempre a ouvir o que tenho para dizer e não me impõem nada.
CM: Tens uns shows e concertos previstos?
JM: Sim. Tenho várias coisas previstas até outubro, o melhor é irem consultar as minhas redes sociais para saberem onde vou cantar.
CM: Para acabar, a pergunta que faço no final de cada entrevista: tens uma mensagem geral para os jovens lusodescendentes?
JM: Sim. Para não se esquecerem que as nossas origens vêm de Portugal. De nunca terem vergonha mas que pelo contrário devem ter orgulho por serem lusodescendentes porque significa que os nossos pais saíram de nosso país para conquistar e para dar-nos uma vida melhor. Aliás, não é porque eles saíram do país, que isso significa que devemos esquecê-lo porque este país é lindo, maravilhoso e é algo pelo qual temos de ter orgulho.
CM: Obrigada Júlia! Estou completamente de acordo e desejo-te tudo de bom. Vais ter uma linda carreira com certeza! Convidamos toda a gente a ouvir as músicas Where I Belong e Rollercoaster, de Júlia Machado, disponíveis em todas as plataformas. Não hesitem também em seguir Júlia Machado no seu Instagram e em consultar o seu site para não faltar aos shows!
Entrevista realizada por Julie Carvalho,
de Os Cadernos da Julie.
Transcrição pela Sophie Abreu.