A Cap Magellan presente na Futurália
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20 mars 2018Compositor, autor, escritor de canções, produtor, editor, poeta, músico… Pedro Abrunhosa é tudo isto e muito mais. Do conservatório ao Jazz, formou bandas, tocou em orquestras, partiu em digressões pelo mundo. Com uma sóloda carreira pautada pelo sucesso, Pedro Abrunhosa acumulou discos de platina e inúmeros prémios. Vai estar em Paris no próximo dia 30 de abril no Olympia e a Cap Magellan foi ao encontro daquele por quem a associação nutre um carinho muito especial.
Cap Magellan : São quase 25 anos de carreira profissional. Desde 1994, o Pedro Abrunhosa consolidou a sua presença sempre perto do povo português. Que balanço faz ?
Pedro Abrunhosa : A proximidade com as pessoas, falar do seu dia-a-dia, dos seus medos e ambições, das banalidades da vida mais que de devaneios intelectuais, fez-me um Escritor de Canções que é fruto da soma dos seus percursos. O meu próximo disco, já pronto e a sair em breve, epitomiza isso. O povo português comove-me, move-me e inspira-me. E esse é o meu balanço.
CM : Todos conhecemos o seu percurso musical desde o seu primeiro sucesso com o álbum “Viagens” mas poucos sabem quem era o Pedro Abrunhosa antes de 1994. O que nos pode dizer sobre a sua vida, as suas experiências, até chegar aos palcos internacionais ?
PA : São 25 anos desde a gravação e edição do primeiro disco. Para trás, bastante tempo de estrada, professor, leitor, compositor para filmes e teatro, crescimento e aprendizagem. Foi um caminho longo, solitário a maior parte das vezes, mas muito enriquecedor. Trabalhei muito em França como músico de Jazz nos anos 80. Antes disso, França em, geral, Paris em particular, eram destinos para trabalhar no verão, para adquirir experiências que, mais tarde, tão úteis viriam a ser na minha escrita.
CM : Quais são as suas referências musicais ?
PA : Madrigais Renascentistas, música Coral do século XIII, Gainsbourg, Cohen, Dylan, Zeca, Mahler, Wagner, Debussy, Ravel, Schonberg, Lou Reed, Prince, James Brown. Toda a excelente música que se faz.
CM : Para além de cantor, não nos podemos esquecer que também é autor compositor. Escrever é inevitável para si ? A música pode ser considera como literatura ?
PA : Eu não sou cantor. Sou apenas Autor. Um Autor que interpreta, cantando, as suas Músicas. Ser Autor é a peça mais importante para a minha carreira. É isso que sou e que me define. Também não sou pianista, mas toco piano de forma muito própria nas minhas Músicas. Sim, a Canção, sobretudo a feita pelos nomes que atrás referi, é Literatura. Por outro lado, toda a Literatura quer ser Música. Nem toda o consegue.
CM : Qual é a melhor recordação que guarda da sua carreira profissional ?
PA : Zenith, Paris, 1996. Concerto promovido pela Cap Magellan. Contra todos os vatícinios da minha editora da altura, Ploygram, que me aconselhava a não ir por diante. Juntos, com a Cap Magellan, avancei. E foi um sucesso do qual me orgulho como de nenhum outro.
CM : Pode falar-nos do fotoconcerto que realizou no passado mês de março, no Porto, para a segunda edição do Festival P? Como é que surgiu essa oportunidade e como encarou esse desafio ?
PA : Gosto de tocar tendo imagens como pano de fundo. Já o tinha feito em espectáculo próprio em 2014 nos Coliseus. Quis repetir. Eu desafiei o jornal nesse sentido após ter sido convidado para celebrar o aniversário do mesmo.
CM : Dia 30 de abril, vai atuar em Paris. Qual o seu sentimento ao vir cantar em Paris, diante o público francês e dos Portugueses que vivem em França ?
PA : Orgulho. Há três gerações, pelo menos, de Portugueses a residir em França. Todos pelo mesmo motivo estão longe da pátria mãe: a busca por uma vida sem sobressaltos. Muitos já enraizados e bi-culturais. A todos o chão comum do sangue e da língua. E a todos tento levar, não a saudade, mas a contemporaneidade de Portugal.
CM : Falemos de lusofonia. O que é que lhe sugere esse termo ?
PA : Riqueza cultural. Arrojo. Oportunidade. Devíamos reclamar esse lugar no mundo através das força dos milhões que falam português. Infelizmente, a mediocridade de sucessivos políticos responsáveis por essa área não tem permitido a concretização daquilo que seria natural: a implementação de um circuito lusófono de real intercâmbio de gentes, experiências e valências. Um desperdício.
CM : É muitas vezes apontado como “o Homem do Norte”. Tem orgulho desse apelido ? Fale-nos um pouco da sua relação com o Norte de Portugal e como influenciou as suas músicas e o seu sucesso profissional.
PA : Sou Homem do mundo nascido a Norte de Portugal. Trago comigo a terra que piso e nunca me senti menor por ser Homem do Norte nos mundos que corro. E para conquistar o mundo, é fundamental conhecermos a fundo a nossa rua. Porque ela é quem nós somos.
CM : Portugal venceu a última edição da Eurovisão, em 2017. O que representa para si “a música portuguesa” hoje em dia ?
PA : Foi momento de grande orgulho para todos os Portugueses. A Música portuguesa está deslumbrada pelas redes sociais, instrumento fundamental, mas não devia viver para o somatório de ‘gostos’. A ausência de profundidade, em muitos casos, vai ser fatal. Contudo, a ascensão de alguns novos talentos é uma esperança.
CM : Gostaria agora de falar sobre o seu último single: “Meu Querido Filho, Tão tarde Que É”. É uma música cheia de simbolismo tendo em conta os vários incêndios que Portugal conheceu nestes últimos meses e têm acontecido todos os anos. Sentiu necessidade de escrever sobre esse tema da atualidade ? Que impacto espera que essa canção provoque na sociedade portuguesa ?
PA : A Música pode escolher ser entretenimento ou ser espelho da realidade. É esta última condição que, para mim, deve concretizar. Falar de dor e morte ajuda, nestes casos, a exorcizar colectivamente, a expulsar os demónios interiores do país. Espero que ajude. Não peço mais ao que escrevo.
CM : O que nos pode dizer sobre o seu oitavo álbum que está em preparação ?
PA : Pouco: está pronto e é poderoso. Talvez a minha melhor escrita de sempre.
CM : Uma mensagem para os leitores da revista CAPMag?
PA : Depois de lerem esta entrevista, devem dar um Beijo a quem Amam. Se não amarem ninguém, beijem e depois Amem.
Muito obrigado !
Astrid Cerqueira