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4 décembre 2019GNR e Paulo Gonzo são duas lendas da música portuguesa com mais de 35 anos de carreira cada um e uma influência colossal sobre as gerações de artista que seguiram. Presentes em Paris para um concerto único no dia 14 de dezembro, a Cap Magellan teve a sorte – e a honra – de entrevistar estas duas figuras notáveis da musica nacional. Estas entrevistas foram a ocasião de fazer uma retrospectiva sobres as carreiras dos músicos que estão ansiosos de tocar em Paris no final do ano, numa sala prestigiosa como a Salle Pleyel.
GNR
De um lado temos então os GNR, banda de pop rock, formada no Porto, em 1980, composta por Rui Reininho (Voz), Jorge Romão (Baixo), Toli César Machado (guitarra).
Não obstante o grupo ter surgido com o “boom do rock português”, os membros consideram que estiveram à margem do fenómeno, pois quebraram barreiras e criaram uma nova sonoridade em Portugal. Seguindo uma tendência maioritariamente pop rock, a banda conheceu várias evoluções durantes os anos de carreira, o seu estilo acabando por cristalizar-se com a estabilização dos membros do grupo que conheceu alguma « peripeteias ». Assim a banda fundada por Alexandre Soares, Vitor Rua (guitarra) e Tóli César Machado, acolheu Rui Reininho depois do jovem entrevistar os elementos da banda para um jornal do Porto. Grupo bem conhecido dos concertos da Cap Magellan e até de Noites de Gala. Hoje o vocalista ja não faz as perguntas, respondendo às perguntas dos jornalistas, tal como respondeu às nossas :
Cap Magellan: Diz-se que a história dos GNR confunde-se com a história da pop rock em Portugal. Que olhar têm sobre o pop rock português atual ? Que conselho gostavam de dar a nova geração de artistas ?
GNR: Parece complicado olhar para a actualidade musical sem paternalismo, mas nota-se um vazio grande em torno de temas acutilantes da humanidade: um Amor mais morno, uma Revolta mansinha, umas Amizades sonsas: e o Hip Hop é muito americanizado embora lá do bairro.
Cap Magellan: Uma geração de portugueses olhou para vocês como os « Filhos do Rock », um grupo que dava voz a muitos jovens. Como é que acham que a nova geração olha para vocês ?
GNR: Filhos do rock? Ele sem rebeldia é uma música de avós dos anos 50. Mas ainda é um desporto de modalidade radical!
Cap Magellan: Se « Psicopátria » foi o album que vos revelou a Portugal, que disco teve o maior impacto fora do pais na vossa opinião ?
GNR: Psicopátria foi editado no Brasil mas o “Rock in Rio Douro” foi inaugurado em França, na sala Zenith a celebrar!
Cap Magellan: Se tivessem de escolher 5 músicas que representam o grupo – a sua evolução – quais seriam ?
GNR: Começando no Portugal na Cee e modernizado com o Hardcore , passando pelas Dunas e Efectivamente, nas Asas, no Morte ao Sol até à Cadeira Elétrica… Quem? GNR
Cap Magellan: Pensam que o vosso estilo evoluiu ou « madurou » durante estes anos ?
GNR: Se não amadurecesse era porque tinha cristalizado. É muita fruta.
Cap Magellan: Depois de tantos anos de carreira, ainda têm sonhos por alcançar ?
GNR: Quem não Sonha dorme…em Serviço…
Cap Magellan: Trabalhar em estúdio, e atuar no palco são duas coisas completamente diferentes, têm uma preferência ?
GNR: Como o nosso vinho Desnorteado, há quem prefira a versão IN VIVO ou IN STUDIO.
Cap Magellan: Pensam que há uma diferença entre produzir-se em Portugal, e produzir-se fora do país, frente a um público que às vezes não percebe o português ?
GNR: « La scène marche, le tableau s’arrange… ». A verdade é de Artaud, por vezes onde não
há um conhecimento da língua existem as emoções: prof. Marcelo dixit!
Cap Magellan: Para concluir : como é que se sentem a algumas semanas do concerto em Paris ?
GNR: Paris é e será sempre um passo incontornável no passado, presente e futuro dos GNR:
neste caso é o início de uma Nova época de Concertos, Arranjos e projectos!
Em 2005, o grupo obteve o devido reconhecimento pelo trabalho de décadas, ao serem condecorados com a « Medalha de Mérito Cultural », das mãos do Presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio e em 2016 receberam da Sociedade Portuguesa de Autores a « Medalha de Honra da SPA ».
Ao comemorar os 35 anos de carreira em 2016, a banda lançou uma biografia official, « Nem a Beladone cresce », na qual podemos encontrar muitas histórias sobre a evolução da banda e outros momentos marcantes contados do ponto de vista dos membros. 35 anos e 12 albums depois, os GNR não envelheceram nem um pouco, as músicas da banda sendo ainda hoje muito atuais, e falando a todas as idades.
O grupo realizou várias ações de sensibilização social e dedicou-se a causas filantrópicas. Em 2014 tornaram-se discograficamente independentes com a criação da editora própria.
Paulo Gonzo
Depois da pop rock, passamos ao blues com Alberto Ferreira Paulo, mais conhecido pelo nome artístico de Paulo Gonzo. Fundador do grupo Go Graal Blues Band, com o qual grava discos como Go Graal Blues Band, White Traffic ou So Down Train, o músico começa uma carreira a solo em 1984, lançando em 1986 o álbum My Desire.
Depois de um início de carreira em inglês, lança o seu primeiro disco em português em 1992, e é com uma música em português, que se destaca : « Jardins Proibidos ». Com a sua melodia delicada e a sua letra encantadora, Paulo Gonzo seduz Portugal e o mundo inteiro.
Em 2017 sai o seu último album (até hoje) « Diz-me », dando voz a poema portugueses como o « Presságio » de Fernando Pessoa. É com a sua voz única que nos canta versos famosos como « Mas se isto puder contar-lhe, O que não lhe ouso contar », versos que nos tocam como nunca.
Cap Magellan: Depois de tantos anos de carreira – a solo, mas não só – qual é a musica que tem um lugar especial no seu coração ?
Paulo Gonzo: A minha resposta pode parecer um « lugar comum », pois sou eu quem as compõe. Dai que todas elas tenham um lugar especial no meu coração. Porém, algumas dessas músicas chegaram mais facilmente as pessoas que me ouvem. Por exemplo : « Jardins Proibidos » « Sei-te de cor », « Dei-te quase tudo », entre muitas outras !
Cap Magellan: Pensa que a sua experiência fez desaparecer toda a ansiedade que pode-se sentir antes de subir ao palco, ou sente sempre a mesma emoção desde o primeiro concerto ?
Paulo Gonzo: Pelo contrário. A experiência faz-me ver que tenho mais responsabilidades quando subo a um palco. Ser humilde e continuar a respeitar o publico é uma prioridade. Quando não sentir essa emoção e ansiedade, é porque alguma coisa está errada.
Cap Magellan: Confiou várias vezes que era muito espontâneo ao preparar uma música. Nunca conheceu uma crise ao tentar compor para um disco ?
Paulo Gonzo: Sim. Quando faleceu alguém que era muito « especial » na minha vida. Há quatro anos.
Cap Magellan: Fez muitos duetos durante a sua carreira – dedicando até um disco em 2013 a algumas dessas músicas – qual é o artista que o marcou para sempre ?
Paulo Gonzo: Todos eles me marcaram imenso. Pois partilhar uma canção é sempre um momento único e especial. Ficamos com uma amizade para sempre. Mário Biondi é uma delas.
Cap Magellan: Ao olhar para a sua careira, pensa que sempre ficou fiel à sua paixão pela música e ao seu estilo ? Gostaria de apagar algum « erro » ?
Paulo Gonzo: Não. Assumo sempre tudo a que me proponho, mal ou bem.
Cap Magellan: É conhecido por improvisar às vezes durante os concertos. Acha que vamos ter direito a algumas surpresas na noite do 14 de dezembro ?
Paulo Gonzo: Talvez ! (risos)…
Cap Magellan: Como é que se sente ao partilhar o palco com os GNR ?
Paulo Gonzo: Muito feliz e ansioso. Somos amigos de sempre. Amigos « de casa » ! Excelentes pessoas, excelentes músicos. São família !
Cap Magellan: O seu público pode aguardar brevemente um novo projeto ?
Paulo Gonzo: Sim. Estou a trabalhar nele.
Cap Magellan: Para concluir : como é que se preparou para o concerto em Paris ?
Paulo Gonzo: Com muita ansiedade !!
Paulo Gonzo e a banda GNR, estes « amigos de sempre », trabalharam juntos em muitos projetos, entre o quais o álbum de 1995 « Fora d’Horas », produzido por Frank Darcel, que incluía letras de Rui Reininho. O vocalista dos GNR volta a ser letrista para o album « Suspeito ».
Sabendo rodear-se de artistas de talento, nacionais e internacionais, Paulo Gonzo aparece como um músico cujo génio lhe permite ser considerado ainda hoje como uma da figuras mais importantes da música portuguesa.
Depois de tantos anos de careira, Paulo Gonzo e a banda GNR continuam imunes a modas e tendências; e a impor-se como grandes vozes nacionais, símbolos da música portuguesa.
Acabamos este artigo com algumas das músicas mais cultas dos GNR e Paulo Gonzo, músicas para ouvrir sem moderação até o dia 14 de dezembro :
- « Portugal na CEE» GNR.
- « Dunas» GNR.
- « Pronúncia do Norte» GNR.
- « Metropolitana» GNR.
- « Reis do Roque » GNR.
- « Sangue Oculto» GNR.
- « Quero que vá tudo pro inverno» GNR.
- « QUEM ? » GNR
- « Sei te de cor » Paulo Gonzo.
- « Jardins Proibidos» Paulo Gonzo.
- « Amor Maior» Paulo Gonzo.
- « Quem de nos Dois» Paulo Gonzo.
- « Dei-te Quase Tudo» Paulo Gonzo.
- « Woman Woman» Paulo Gonzo.
- « Coisas Soltas… (These Foolish Things)» Paulo Gonzo.
- « She» Paulo Gonzo.
Informações úteis :
Sábado 14 de Dezembro, 20h.
Salle Pleyel
252 rue du Faubourg Saint Honoré
75008 Paris
Também em concerto privado no âmbito da Gala da CCIFP no dia 13 de Dezembro (Maison de la Mutualité).
Lurdes Abreu – Cap Magellan 294°
Fotos: verportugal.net e wordpress.com
pode ouvir-los na Spotify [Paulo Gonzo] [GNR] o ver-los na Youtube [Paulo Gonzo] [GNR]