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30 mars 2021Florbela Costa, 32 anos, licenciou-se na Universidade da Beira Interior em Engenharia Aeronáutica e faz parte do projeto NASA’s Mars 2020. O Cap Magellan teve a oportunidade de conversar com Florbela Costa, que falou sobre o seu percurso académico e profissional.
Mathilde Amaral: Porquê Engenharia Aeronáutica e porquê Universidade Da Beira Interior (UBI)?
Florbela Costa: Quando tinha 17 anos, o meu sonho era ir para a Força Aérea, em Portugal, para estudar Engenharia Aeronáutica. Sempre tive um fascínio pela aviação e pelo Espaço, era esse o rumo que queria seguir. Na altura, prestei provas para a força aérea, passei nas provas todas. Cheguei à última prova que eram as duas semanas de tropa, que se chama “Prova de Aptidão Militar”, no final fiquei em quarta colocada infelizmente em Portugal só havia 2 vagas por ano então não fui selecionada. Decidi ir para Engenharia Aeronáutica na UBI, porque era o único sítio em Portugal onde havia este curso. Sabemos que em Lisboa há Engenharia Aeroespacial, mas Engenharia Aeronáutica era mesmo único na UBI, foi a minha primeira escolha e foi onde entrei.
M.A : Acha que a UBI teve um papel fundamental na sua formação?
F. C : Sim, sem dúvida e não vejo só isso no meu percurso profissional, mas também vejo no percurso dos meus colegas que também estudaram Engenharia Aeronáutica na UBI e que também conseguiram encontrar trabalho muito facilmente, todos encontram-se em posições importantes e projetos muitíssimo interessantes. Acho que a UBI prepara muito bem os seus engenheiros e sem dúvida que aprendi muito durante os meus cinco anos na UBI e isso ajudou-me imenso a vencer no mundo profissional.
M.A : Continua a ter contacto com os seus colegas de turma?
F.C : Mantenho o contacto com alguns dos meus amigos apesar de estarmos todos espalhados pelo mundo, tenho amigos na Nova-Zelândia, em França, em Espanha, em Portugal. Tenho dois colegas de turma que se encontram em Lucerna comigo e estão a trabalhar também no ramo da aviação. Nós eramos todos muito chegados, acho que isso é um benefício da UBI, como é uma cidade pequena cria-se um ambiente de família entre as pessoas e acho que isso é fantástico, não trocaria isso por nada.
M.A : Se voltasse atrás, voltaria a fazer a mesma escolha?
F.C : Sem dúvida, voltaria a não entrar na Força Aérea, voltaria a entrar para a UBI e voltaria a trabalhar nas mesmas empresas onde trabalhei até hoje porque acho que não poderia ter corrido melhor.
M.A : Como chegou à Maxon Group?
F.C : Trabalhei primeiro durante cinco e meio anos no CEiiA (Centre of Engineering and Product Development) , em Portugal, que está hoje em Matosinhos. Trabalhei no projeto do Elevator & Sponson do KC-390, é um projeto com a Embraer. No primeiro ano deste projeto, tive a oportunidade de estar nove meses deslocada na Embraer, diretamente com o cliente no Brasil. Estive envolvida desde a fase preliminar do projeto até a fase de certificação, ou seja, passei nas fases todas no projeto. Nos últimos dois anos fui gestora técnica de projeto e foi graças a esses conhecimentos que adquiri durante esse longo projeto, que me pude candidatar ao projeto da Maxon. Como já tinha visto todas as fases e já tinha experiência como gestora de projeto então candidatei-me e fui selecionada apesar de não saber falar corretamente alemão como era requisitado na oferta de trabalho.
M.A : Qual foi a sua função neste projeto NASA’s Mars 2020?
F.C : A NASA é um dos meus clientes finais. Na Maxon Motor, trabalhei como gestora técnica de projeto para o desenvolvimento dos seis motores que controlam os movimentos das pás do motor. São motores muito pequenos, porque não são o motor central do helicóptero que gera a propulsão, controlam o movimento das pás. Estes motores têm de ser muito robustos porque tem de aguentar muitas cargas e vibrações que acontecem durante a descolagem da Terra e aterragem em Marte. Além disso têm de aguentar muitos meses de vácuo, durante o transporte (julho até fevereiro) tal como aguentar os também muitos ciclos de temperatura, em Marte são muito baixas, então também têm de ser resistentes. Desenvolvi então, em conjunto com a minha equipa estes pequenos motores, e espero que dentro de semanas possamos ver o helicóptero dar os seus primeiros voos e espero que a Maxon tenha o seu contributo para uma missão de sucesso da NASA.
M.A : Qual foi o objetivo principal deste projeto? O que esperam no futuro?
F.C : O objetivo principal do ponto de vista da NASA era demostrar a evolução da tecnologia porque é o primeiro helicóptero em Marte. Se funcionar como esperamos iremos ver muitos mais e maiores helicópteros em explorações espaciais, seja para Marte ou para outros planetas. Para a Maxon, trabalhar neste tipo de projeto seja para Marte ou para outros projetos espaciais ajuda a desenvolver novas tecnologias que não tínhamos desenvolvido previamente. Sempre que desenvolvemos novas tecnologias é sempre um passo na direção de levar pessoas a Marte porque é preciso ter todas estas tecnologias.
M.A : Como se sente depois de este mediatismo à sua volta?
F.C : Normal. Acho que é um privilégio ter esse reconhecimento. Primeiro para as pessoas ficarem a saber da UBI, e perceberem que esta universidade prepara da melhor forma os engenheiros. Mas também vejo isto no ponto de vista de ser mulher, permite mostrar que as mulheres também são capazes de terem posições importantes no mercado de trabalho. Estas duas coisas são, para mim, fundamentais.
M.A : Como emigrante, qual é a sua ligação com Portugal?
F.C : Continuo a ir a Portugal duas a três vezes por ano, passo lá as minhas férias. Faço sempre os possíveis para ir quando posso. Tenho muitíssimas saudades essencialmente das pessoas, sejam amigos ou familiares.
M.A : Ainda tem alguma ligação com a França que é o seu país de origem?
F.C : Sim, tenho uma irmã que vive lá, em Metz, portanto mantenho sempre uma ligação com França.
M.A : Quais são as suas expectativas para o futuro?
F.C : Num futuro próximo quero ficar na Suíça na Maxon e trabalhar para outros projetos desta dimensão, projetos para Marte ou para o espaço. A longo termo ainda não sei o que pretendo fazer. Neste momento estou a continuar a estudar, estou a tirar um Master Business Administration.
M.A : Qual seria o conselho que poderia dar a um/a atual aluno/a que esteja a tirar Engenharia Aeronáutica na UBI ?
F.C : Diria para estudar muito e nunca desistir. É preciso estudar e dar o seu melhor. Quando chegar o momento de se candidatar e mesmo que não tenha os requisitos todos, diria para o fazer na mesma, foi o que fiz e consegui, porque me deram a minha oportunidade. O importante é mostrar o que se vale, e nós portugueses temos muito para dar. Por vezes as pessoas não tentam com medo de uma resposta negativa, isso não pode acontecer, também tive, acontece a todos, temos só de lutar até conseguir o que queremos.
Mathilde Amaral