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13 décembre 2019En 2020, soutenez Autres Brésils !
20 décembre 2019A oposição entre o bem e o mal é uma das noções filosóficas mais antigas e presente na construção de todas as comunidades humanas. Em todas as civilizações, esta dicotomia serviu para estabelecer as leis que regem os Homens.
Na antiga Grécia, raiz fértil da filosofia ocidental, as ideias de justiça, de culpa, de inocência, mas também de educação foram pensadas e debatidas por sábios que, ainda hoje, são referências do conhecimento e para o progresso das sociedades humanas. No século IV a.C., a Ética a Nicómaco de Aristóteles e o Timeu de Platão abordaram estas questões. Para este último, o Homem não é naturalmente mau. O mal aparece como uma disfunção do ser humano. Platão considera assim que «ninguém é mau propositadamente, pois o mau torna-se mau por causa de alguma disposição maligna do corpo ou de uma educação mal dirigida». Aristóteles prolonga o pensamento platónico defendendo que o Homem não é genuinamente mau, mas que são as suas ações, e a intenção que as precedeu, que definem o caráter e o valor de cada ser humano. Existe, desta forma, uma vontade inerente à própria maldade. Contudo, para ambos os filósofos, a maldade provém da ignorância e tem, portanto, a sua origem na educação que cada indivíduo recebeu. Extrapolando a ideia para o mundo atual, a maldade é assim o resultado do que foi ensinado a cada pessoa desde a sua mais tenra infância, das suas vivências, das lacunas que se formaram e das ausências, também, no processo de crescimento de indivíduos que se querem cidadãos esclarecidos e responsáveis. É no contexto familiar e no espaço escolar que essa educação se concretiza. A família, a escola.
O passado dia 20 de outubro marcou o dia mundial de combate ao bullying. Define-se como o conjunto de maus-tratos, ameaças, coações ou outros atos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada frágil ou vulnerável (in priberam.pt). O uso deste estrangeirismo parece remeter para algo novo e característico da nova geração, porém, o bullying é um fenómeno cultural profundamente enraizado e há muito presente nas nossas escolas. Essa violência está inerente a todo o tecido social e é transversal a todos os estatutos sociais e económicos, a todos os contextos e espaços geográficos. E de fora entra nas escolas. São inúmeros os casos de violência doméstica em Portugal, os assassinatos que dela decorrem, as várias centenas de detenções que se verificam anualmente, sem falar dos casos que ficam silenciados entre as paredes dos lares. São as consequências de uma cultura violenta que, apesar de restringida em público, continua a manifestar-se em privado, na esfera doméstica, e a que os mais jovens presenciam e experienciam. O comportamento das crianças nas escolas é o espelho dessa sociedade violenta em que vivem e que os educa.
A lógica do bullying obedece a um conjunto de pequenas demissões da nossa própria ação. Parte, geralmente, de um ator isolado que “brinca”, “goza” com alguém mais fraco, mais isolado. Seguem-se outros intervenientes que irão apoiar os atos de assédio participando de forma ativa ou passiva. O assédio inicia-se frequentemente à vista de outros indivíduos, mas que não intervêm, encontrando desculpas que pensam justificar tais vexames. Outros ainda condenam o assédio, mas também não se interpõem para defender a vítima. Cria-se uma espiral violenta, em crescendo, que rapidamente pode desembocar em violência física. A vítima está isolada e refugia-se no silêncio convencendo-se que merece tal tratamento. Sente vergonha e cala-se… Muitos de nós já vivemos estas situações. Do lado da vítima, do lado dos agressores, ou até de ambos os lados.
Em Portugal, durante o ano letivo de 2017/18, a Polícia de Segurança Pública recebeu mais de 5 queixas diárias relacionadas com o assédio violento nas escolas. Trata-se essencialmente de casos em que houve violência física e será fácil de entender que as ocorrências de assédio “menos violento” foram muito mais numerosas. Acresce, no mundo tecnológico de hoje, a preocupante questão do ciberbullying que confere ao problema uma dimensão globalizante. Em inquérito da UNICEF revelado em setembro deste ano, concluiu-se que mais de um terço dos jovens entre os 13 e os 24 anos (oriundos de 30 países) já foram alvo de assédio violento através das redes sociais. As consequências do assédio são profundas e duradouras. Já levaram jovens a consequências extremas. Em junho deste ano, uma criança da região parisiense, de 11 anos, vítima de assédio na sua escola, suicidou-se. Não se trata de um caso isolado. Compete-nos, familiares, professores, amigos, colegas, estarmos atentos e não minimizarmos a questão. Compete-nos intervir sempre, de forma adequada, pedagógica. Compete-nos também, e sobretudo, resolver a questão a montante, isto é, educar para o bem. É que o bullying não é brincadeira de criança…
Miguel Guerra – Professor de História
SIP – Liceu Internacional de Saint-Germain-en-Laye
SIP – Liceu Alexandre Dumas de Saint-Cloud