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6 mars 2024Entrevista com o autor brasileiro de bandas desenhadas Marcelo D’Salete
6 mars 2024No dia 24 de Janeiro de 2024, o autor brasileiro de bandas desenhadas Marcello Quintanilha estava na Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris para um encontro. A Cap Magellan esteve presente e obteve uma entrevista exclusiva.
Cap Magellan: Olá Marcello, espero que esteja tudo bem contigo. Estamos na livraria portuguesa e brasileira de Paris para apresentar o teu trabalho. Quero sobretudo falar contigo do teu último livro, Escuta formosa Márcia. Primeiro, é importante para ti estar aqui em Paris?
Marcello Quintanilha: Sim, é muito importante, porque é importante estar em contato com o público. É um dos momentos mais intensos nessa relação entre autor e leitor. Tenho a oportunidade de conversar com as pessoas, com os leitores, é algo realmente mágico.
Cap Magellan: O teu público aqui é sobretudo lusodescendente ou também francês?
Marcello Quintanilha: Também francês! O meu público na França é sobretudo um público francês. É realmente fascinante porque é incrível quando, trabalhando nas premissas da sua própria cultura, você consegue atingir pessoas que não necessariamente têm um conhecimento prévio da sua cultura para se interessar pelo seu trabalho. Quando isso acontece é muito forte, muito poderoso.
Cap Magellan: Estamos aqui também com Marcelo D’Salete. Conhecem-se bem?
Marcello Quintanilha: Bastante bem sim! Trabalhamos na mesma editora no Brasil, na França e em outros países. Vemos-nos muito em festivais, encontros, etc.
Cap Magellan: Qual é o teu percurso de vida?
Marcello Quintanilha: Meus pais vêm da classe trabalhadora. O meu pai foi um jogador de futebol que teve que interromper a carreira muito prematuramente por problemas físicos decorrente da prática deste desporto. Ele se dedicou à contabilidade. A minha mãe era professora primária. Venho do que conhecemos no Brasil como classe média baixa, um entorno trabalhista muito importante, sobretudo no bairro em que nasci que é um bairro de passado muito industrial. Todo tempo que passei no Brasil, foi no universo da indústria, das fábricas, etc.
Cap Magellan: Em Escuta formosa Márcia, mostras-nos a favela, que é diferente do bairro onde nasceste. A realidade da favela é pouco conhecida no mundo. Era importante transmitir essa realidade para o estrangeiro?
Marcello Quintanilha Acho que é sempre importante transmitir tudo aquilo que faz parte da cultura popular de um determinado país, da forma mais abrangente que somos capazes. Me interessa muito falar daquilo que eu conheci em primeira pessoa. Mesmo não tendo crescido numa favela, a minha proximidade com este universo é muito grande, porque não acredito que qualquer pessoa que tenha nascido no Brasil possa simplesmente fechar os olhos. Me interessa muito falar desse aspecto que considero ser o aspecto mais cheio de vida da sociedade brasileira. A classe trabalhadora sempre sustentou a cultura popular então é o que mais me interessa.
Cap Magellan: A personagem da Márcia representa todas as mulheres brasileiras, não é?
Marcello Quintanilha: Nunca penso dessa forma. Nunca penso que uma personagem vai representar todas mulheres. Não sou capaz disso. Não sou capaz de imaginar uma personagem que vai representar todos homens. A personagem de Márcia é uma personagem com a qual me identifico muito. Mas ela não representa todas mulheres, não tem a ambição de representar todas mulheres. Não trabalho dentro dessas questões quando crio uma personagem. Não me interessa.
Cap Magellan: Inspiras-te da realidade brasileira?
Marcello Quintanilha: Na verdade todas minhas histórias são ficção. Me inspira todo tempo da realidade brasileira, mas para criar ficção! Todo mundo pode se identificar com as minhas histórias, porque é a realidade do ser humano. Trabalho as personagens dentro da precariedade do ser humano. Qualquer pessoa é capaz de se identificar com isso. Eu me sinto muito feliz quando isso ocorre. Aparentemente, não é necessário que alguém tenha um conhecimento profundo sobre a realidade brasileira para se identificar com essas personagens, o que é fantástico!
CM: Nas tuas bandas desenhadas temos muita cor. Como é que escolhes as cores?
Marcello Quintanilha: Na verdade as cores de Márcia são cores que não correspondem às cores que as pessoas têm na realidade. O objetivo foi criar uma metáfora com a desconexão da realidade que existe atualmente a nível brasileiro e internacional. Uma desconexão que vem do fato de que muitas pessoas têm imensa dificuldade em filtrar a boa informação, então acabam se fechando do universo, o que corrobora as suas visões iniciais do mundo. Essas visões do mundo nem sempre estão relacionadas com a realidade, o que acaba criando um conflito nessa área. As cores de Márcia funcionam como uma metáfora em relação a esta desconexão.
Cap Magellan: Venceste a Fauve d’or em Angoulême em 2022. O que representa este prémio para ti?
Marcello Quintanilha: É o principal prémio europeu. É incrível que uma história como essa, que tem relação com a cultura brasileira, que está fundamentada dentro dos paradigmas que correspondem à cultura brasileira, tenha tocado tanta gente na Europa. É realmente difícil de dimensionar!
Cap Magellan: Quais são os teus futuros projetos?
Marcello Quintanilha: Não faço a menor ideia!
Cap Magellan: Para acabar, a pergunta que faço sempre no final das minhas entrevistas: tens uma mensagem para os jovens lusodescendentes?
Marcello Quintanilha: Espero que possam fazer o melhor possível, que aprendam a ser sinceros consigo mesmos e com os outros.
Cap Magellan : Obrigada Marcello! Espero que nos voltaremos a ver.
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Entrevista realizada pela Julie Carvalho,
de Os Cadernos da Julie.