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6 novembre 2024Entrevista da Carolina Deslandes
8 novembre 2024A cantora cabo-verdiana Lucibela está de volta a Paris para o concerto de lançamento do seu novo álbum, Moda Antiga, no dia 15 de novembro no Café de la Danse! A Cap Magellan teve uma entrevista exclusiva com ela.
Cap Magellan: Ola Lucibela, espero que esteja tudo bem consigo. Vai estar em Paris para o concerto de lançamento do seu terceiro álbum, Moda Antiga, no dia 15 de novembro, no Café de la Danse. Está ansiosa?
Lucibela: Estou sim. Estou muito ansiosa. Tenho feito poucos concertos em Paris ultimamente, e é sempre bom, porque Paris é onde tudo começou. Estou mesmo ansiosa para saber se vão gostar do meu novo disco.
CM: A última vez que atuou em Paris foi em janeiro de 2023, para o festival Au Fil de Voix. O que acha do público parisiense em geral?
Lucibela: Eu acho o público espetacular em Paris. Não só em Paris, mas também, todos os outros países da Europa sabem muito bem apreciar a nossa música. Eles dançam, ouvem com atenção. Sempre vão falar comigo no fim, a dizer que gostaram, que iluminei a sala. Eu gosto muito dessa frase, porque já me disseram tantas vezes, ficou na cabeça. Gosto muito desse calor que o público parisiense tem para a nossa música.
CM: Este álbum volta à música tradicional cabo-verdiana. Do que percebi, a música cabo-verdiana é mais apreciada e conhecida na Europa do que em Cabo Verde, é verdade?
Lucibela: É verdade, sim. Felizmente porque as pessoas gostam mas infelizmente porque eu acho que em Cabo Verde devia-se dar mais oportunidades para mostrar a nossa música. Os jovens deixaram de lado a nossa tradição. Eu gostaria que fosse diferente, mas infelizmente é assim e espero que as coisas venham a mudar. Eu continuo sempre na tradicional porque, além de ser aquilo que eu gosto de fazer, é onde eu me sinto à vontade, é onde eu me sinto bem. Também, acho que devemos lutar para a preservação da nossa tradição. É claro que nós estamos sempre a inovar, temos de inovar na música, mas eu acho que a essência, a nossa raiz, tem de se manter, porque sem ela nós não teríamos a nossa tradição. Temos de lutar por ela.
CM: É esse o objetivo, então, do álbum Moda Antiga? O que vamos poder encontrar neste álbum?
Lucibela: Todas as músicas são tradicionais. Há músicas antigas que nós regravamos. O disco tem seis músicas inéditas e cinco que foram regravadas. Algumas não são muito conhecidas, então as pessoas podem pensar que são inéditas, mas não. E tem outras também que são muito conhecidas, provavelmente vão reconhecer!
Nós damos sempre uma nova roupagem, inovamos, o meu produtor musical traz sempre coisas novas, mas a essência está lá, a raiz da tradição está lá. As músicas novas são de compositores como Mário Lúcio, Élida Almeida. Há também a música que escrevi, é uma coladeira. São músicas feitas agora, mas com a mesma linha tradicional.
CM: Vi que é considerada como herdeira de Cesária Évora. O que acha?
Lucibela: (risos) Não, eu acho que não. Aliás, acho que somos todos. Tenho a sorte de estar a fazer mais concertos lá fora, menos aqui em Cabo Verde. Há outros cantores também que cantam música tradicional muito bem, em grandes vozes, que são espetaculares e que não são tão conhecidos lá fora. Cada vez que aparecer alguém a fazer concertos fora, talvez as pessoas tenham a tendência de ligar uma coisa com a outra. Mas como eu digo sempre: ninguém pode substituir a Cesária. Cesária era Cesária, pela voz, pela história dela, pela maneira de cantar, por tudo. Ninguém vai substituí-la, mas ela também vai ser a nossa grande referência, porque nunca teve um cantor de Cabo Verde que chegou onde ela chegou. Nós temos essa determinação por causa dela, temos essa vontade, essa esperança de conseguir fazer o que ela fez. Mas herdeiros acho que nós somos todos, todos os cantores tradicionais são herdeiros.
CM: Está muito empenhada pela causa das mulheres. Vimos isso sobretudo no álbum Amdjer, o seu último álbum que foi publicado em 2022. Imagino que vamos ter músicas sobre essa causa também em Moda Antiga?
Lucibela: Sim, claro, tem sempre. O que têm em comum também as músicas tradicionais é que falam quase sempre das mesmas coisas. É do dia-a-dia do cabo-verdiano, da luta de uma mãe com os seus filhos, que ainda é uma coisa que em Cabo Verde sofre-se muito. Tenho que dizer que os homens estão a mudar, estão a cuidar mais dos filhos, mas ainda a maioria não o faz. Temos que ser sinceros. E as mulheres de Cabo Verde são muito guerreiras, elas lutam, elas vão atrás, correm.
Mas as músicas tradicionais têm quase sempre a mesma história, das pessoas que migravam e iam atrás de uma vida melhor, ou da sementeira porque não havia chuva, do amor que está sempre presente em todo lado, e também dessas mães sofredoras, etc. Por acaso nesse novo disco que eu tenho, Duas Mornas, fala exatamente das mães que lutam para criar seus filhos.
CM: O que poderia adicionar para convencer toda a gente a assistir ao concerto nesta sala incrível que é o Café de la Danse?
Lucibela: Vamos ter também uma convidada especial, a Kátia Semedo, que é de São-Tomé-e-Príncipe, mas tem a voz cabo-verdiana e já está a viver praticamente há dez anos em Cabo Verde. Ela gravou um disco onde faz esse mix de músicas da sua terra e do Cabo Verde. Vai abrir o concerto, vai ser muito giro. Gosto muito dela. E também gravamos um dueto, tivemos em Angola o ano passado, eu, ela e um cantor muito conhecido aqui em Cabo Verde, que é Fábio Ramos. Gravamos um semba e vai sair agora no meu disco. A Katia vai ser uma surpresa. Acho que é a primeira vez que vai cantar em Paris. Espero que seja uma boa surpresa, que as pessoas adotem ela em Paris, como adotaram todos os cantores de Cabo Verde.
CM: Não duvido que vai acontecer e eu acho que vai ser mesmo muito giro. Vai ser uma grande festa à cabo-verdiana. Para acabar, a pergunta que eu faço no final de todas as minhas entrevistas: tem uma mensagem para todos os jovens lusodescendentes?
Lucibela: Tenho sim. Vejo que os jovens às vezes ficam perdidos com o que são e o que vão ser. A certa altura tenho notado isso. Eu gostaria de dizer a todos os jovens de serem o que realmente são, para sentirem o que são sem medo. Às vezes correr atrás da situação das pessoas não é o caminho. Eles acabam se perdendo, porque vão para um lado e às vezes não é bem aceito, vão para o outro e não é bem aceito. O que eu posso dizer para eles é tentarem descobrir quem realmente são e o que é que gostam, sem medo.
CM: Obrigada Lucibela! Convidamos toda a gente a comprar os seus bilhetes para o concerto de dia 15 de Novembro no Café de la Danse.
Convidamos toda a gente a comprar os seus bilhetes.
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Entrevista realizada pela Julie Carvalho, de Os Cadernos da Julie.