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17 juin 2024É um marco importante na história da instituição. A Santa Casa da Misericórdia de Paris assinala 30 anos. São três décadas de ajuda aos mais necessitados nas mais variadas formas de apoio social. Tudo começou com um grupo de militantes do meio associativo e local que, preocupados com as dificuldades com as quais se confrontavam alguns compatriotas, criaram a instituição para proporcionar melhores condições de vida e suprir as necessidades mais básicas de pessoas em dificuldade.
Foi em 1993 que se deu o primeiro passo para a constituição da Misericórdia de Paris. José Tadeu Sousa Soares, então Cônsul-geral de Portugal em Paris, promoveu na altura uma reunião com os responsáveis associativos para tomarem, ainda mais, consciência das carências da comunidade portuguesa em matéria de apoio social. Viram na criação da Santa Casa da Misericórdia de Paris a resposta mais adequada e pertinente, pela sua vocação estatuária e histórica. Foi então constituída a 13 de junho de 1994, na cripta do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Paris, onde se reuniram em Assembleia Geral Constituinte os 33 irmãos fundadores.
Desde então, passaram-se 30 anos em que as necessidades não pararam de existir. A Misericórdia de Paris foi assumindo, cada vez mais, um papel preponderante na ajuda a quem mais precisa no seio da comunidade portuguesa, mas não só. A verdade é que a Misericórdia não impõe limites nem barreiras de nacionalidades, quando o que impera é o sentido de ajudar os mais necessitados.
Desde a sua criação, a ação da Misericórdia de Paris obedece a dois princípios fundamentais: não substituir nem entrar em concorrência com os serviços existentes, tanto franceses como portugueses, mas ser complementar, procurando a colaboração. Por outro lado, intervém sobretudo quando não há resposta aos problemas específicos da população alvo ou quando essas respostas não são totalmente satisfatórias.
Ilda Nunes é a Provedora da instituição desde setembro de 2020, sendo mesmo a primeira mulher a ocupar este cargo. O primeiro Provedor foi Pedro Cudell, seguiu-se Aníbal de Almeida, Joaquim Sousa e António Fernandes. Ilda Nunes chegou a França com 15 anos, é professora de português e francês, intérprete e tradutora, e está, desde sempre, ligada ao movimento associativo. Fez parte da associação “Memoire Vive”, que trabalha sobre a memória da emigração portuguesa. Hoje, é presidente honorária da associação.
30 anos de ajuda
A Santa Casa da Misericórdia de Paris, que este ano celebra três décadas ao serviço dos mais desfavorecidos, tem vindo a registar um aumento significativo dos pedidos de ajuda. Como sempre, são feitos todos os esforços para tentar responder ao máximo de pedidos possível. “Há 30 anos a Santa Casa fui fundada para responder a alguns problemas, que não são necessariamente os mesmos de hoje”, começa por explicar Ilda Nunes. “Em 1994, houve a perceção de que muitos portugueses que chegavam à idade da reforma sentiam dificuldade para tratar dos dossiers, e muitos portugueses encontravam-se com problemas laborais. Hoje, as necessidades são outras. Há muitas famílias e jovens que emigram, pois não encontram em Portugal aquilo que gostariam, muitos iludidos por uma falsa realidade. A verdade é que não é assim tão fácil encontrar trabalho, pior ainda quando não se fala a língua do país”, refere.
Estes indicadores não justificam que haja, hoje, um número mais exigente em termos de ajuda, mas sim diferente. Ou seja, a Santa Casa teve de ir ajustando os seus serviços de apoio consoante o desenvolvimento e a integração da comunidade portuguesa. “Atualmente também ajudamos no regresso a Portugal, a quem deseja terminar a sua vida no país de origem. Temos criado parcerias com Misericórdia em Portugal para que as pessoas possam integrar lares e, se possível, com uma ajuda do Estado português”.
O apoio alimentar
A ajuda alimentar continua a ser uma das principais bandeiras da Misericórdia de Paris. São realizadas duas recolhas anuais, por altura da Páscoa e do Natal, mas que ainda são insuficientes para responder a todos os pedidos. Tanto a Association Franco Portugaise de Puteaux como a APCS de Pontault-Combault se assumem como importantes parceiros nesta missão de “dar de comer a quem tem fome”. “Nós não temos, infelizmente, um armazém onde possamos ir armazenando as doações. Por amizade, estas duas associações recebem os bens alimentares, para que depois possamos distribuir durante todo o ano, se possível”.
A inexistência de instalações que possam congregar todos os serviços da SCM de Paris faz com que não haja, hoje, suficientes estatísticas sobre os bens angariados e doados. “Apelo aos empresários portugueses, como tenho feito, para que se debrucem sobre este assunto, que diz respeito a todos. Na realidade, 85% das pessoas são portugueses que necessitam da ajuda de outros portugueses. Bastava quatro ou cinco empresários juntarem-se e ajudarem a Santa Casa a pagar a renda de um local, onde nós possamos armazenar os produtos, receber as pessoas e ter a parte administrativa”, confessa. Seria um importante passo para a instituição referenciar e colocar em relatório a sua atividade.
Permanências sociais
As permanências sociais são asseguradas diariamente, ao longo de todo o ano, por telefone disponível 24/24 horas. Sempre que necessário, os voluntários reúnem-se para encontrar resposta às situações mais difíceis, trocar informações e participar em formações. A instituição de apoio social trabalha ainda em parceria com o Consulado-geral de Portugal em Paris, dando resposta às necessidades que chegam. “As permanências sociais são quando as pessoas necessitam. Podem vir aqui, nós recebemo-las, constituímos um dossier e damos seguimento, sendo que por vezes dura anos a resolver o problema. Temos também quatro psicólogos benévolos. Quando sentimos que a pessoa precisa de ajuda psicológica, encaminhamos para os nossos psicólogos que trabalham gratuitamente e que os recebem durante o tempo que for necessário, com consultas em português. Ser em português é muito importante, porque o facto de se falar a língua materna, fala-se mais livremente, consegue-se dizer mais simplesmente aquilo que se sente e os problemas que se tem”.
As ajudas não ficam aqui e nem sempre dizem respeito a carências financeiras. “Também visitamos pessoas isoladas, que a única coisa que precisam é de alguém com quem falar”, conta.
A verdade é que os pedidos de ajuda que chegam à Misericórdia são vários: procura de emprego, de casa, ajuda alimentar, apoio financeiro para material escolar, formação linguística, renda de casa, transportes, elaboração de CV, preenchimento de documentos administrativos, traduções, visitas domiciliárias, entre outros. São ainda recebidas solicitações de ajuda jurídica para resolver situações de ameaça de despejo, de constituição de pedido de reforma, acompanhamento psicológico junto dos profissionais voluntários ou encaminhamento para serviços da especialidade. As pessoas que contactam as permanências sociais têm idades e perfis diversificados, nomeadamente casais ou mães isoladas com crianças menores e sem-abrigos a quem a Santa Casa já socorreu, assegurando-lhes noites de hotel de primeira urgência. De entre os pedidos de ajuda, contam-se ainda novos emigrantes que chegam sem uma rede de apoio familiar ou de amigos, mas também pessoas que se encontram em dificuldade, na sequência de uma separação, despedimento e/ou falecimento, entre outras situações. Um certo número de solicitações carece de uma simples informação. Outras constituem pedidos de ajuda orientados para os serviços sociais franceses habilitados. “No dia 1 de novembro vamos visitar os dois jazigos que possuímos, com 12 pessoas sepultadas, levando rosas brancas e fazendo uma homenagem às pessoas que partiram. É uma das obras da misericórdia. Como todos sabemos, há 14 obras, sendo que sete são espirituais e sete são corporais. Nós tentamos praticá-las, na medida do possível”.
O Dia da Misericórdia
O dia 11 de novembro será, ao que tudo indica, o Dia da Misericórdia em França.
A celebração das três décadas
Será no dia 15 de junho que a Santa Casa da Misericórdia de Paris realiza um jantar solidário solene para assinalar os 30 anos de existência. A celebração contará com a presença do atual Secretário de Estado das Comunidades, José Cesário e com outras autoridades políticas ligadas à comunidade portuguesa e ainda autoridades francesas. “É um momento merecido por todas as pessoas que ajudam a Santa Casa. Este ano, 2024, a Misericórdia conta ainda com a Lídia Jorge como madrinha e com o Embaixador José Augusto Duarte como padrinho. Ambos aceitaram de imediato o convite”.
Corrida Solidária
“Correr para a Misericórdia” é uma ideia original do benemérito Patrick da Eira, empresário português da região parisiense. Recebida com entusiasmo pelo Conselho Administrativo da Misericórdia de Paris, a iniciativa realiza-se no primeiro domingo do mês de outubro. O objetivo da corrida não é alcançar “performances”, mas que cada um corra e caminhe ao seu ritmo, contribuindo de forma solidária para a instituição. “Haverá música, folclore e atividades dirigidas aos mais pequenos. É uma atividade muito bem recebida por parte da comunidade”.
O espírito benévolo
Neste momento, a instituição tem apenas uma assalariada, sendo toda a estrutura constituída por voluntários. “Temos bastantes pessoas, mas precisamos de muitos mais. Nos últimos tempos conseguimos trazer alguns jovens para a instituição, mas continuamos de portas abertas para receber muitos mais, porque as necessidades são cada vez maiores. Cada um oferece o tempo que pode à Misericórdia. O que eu digo sempre é que pode ser só um dia por mês, mas se for 100% desse dia, é fantástico. Em nome das pessoas que precisam, agradeço a todos os que colaboram com a instituição”.
São 30 anos de história de uma Misericórdia ainda jovem, perante os séculos de história de instituições semelhantes em Portugal. “Infelizmente, não temos bens imobiliários, não temos lares nem dispensários. Isso cria uma dificuldade acrescida para enfrentar as necessidades das pessoas. Aproveito para apelar aos donativos diretos que as pessoas podem fazer à Misericórdia. A instituição pode passar um recibo que permite deduzir 66,66% dos impostos. A Misericórdia só pode ajudar com esses donativos”, conclui.
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