Interview de José Rodrigues Dos Santos
5 novembre 2024Dia 10 de outubro de 2024, a Cap Magellan esteve convidada na release party do álbum Voyage Part II dos Calema. A equipa da Tempestade 2.1 não podia deixar passar a oportunidade de entrevistar o duo.
CM: Boa tarde António e Fradique, espero que esteja tudo bem com vocês. Obrigada por nos receber. Estamos aqui para falar do novo álbum, Voyage Part II. A primeira parte, Voyage, veio com um novo estilo musical, cortou com o que vocês tinham feito antes nos últimos álbuns. O que é que quiseram transmitir ao público com o primeiro Voyage?
Fradique: Olá a todos. Na primeira parte do Voyage quisemos começar a viagem onde tudo começou. Foi em São Tomé e Príncipe, onde nós aprendemos a dar os primeiros passos, a conhecer as primeiras coisas e a aprender inclusive a cantar. Quisemos fazer com que a primeira parte viesse de lá. Aliás, viajamos há algumas semanas para São Tomé e gravamos lá dois vídeos da primeira parte do álbum Voyage Part I. Descrevemos o processo no álbum: essa viagem começou em São Tomé, foi para Portugal, depois veio para a França e voltou para Portugal. Queremos contar um pouco daquilo que foi essa viagem toda até chegarmos ao mundo todo.
António: É isso, como o meu irmão disse bem: com este álbum tencionamos levar as pessoas para realmente o que foi o nosso percurso. Tanto como irmãos, como cantores, nossa saída de São Tomé para Portugal, para a França. Ali as pessoas vão poder, digamos, viajar ritmicamente, musicalmente, culturalmente numas melodias que saem da África, a influência que tivemos quando passamos em Portugal, a influência que tivemos quando passamos cá em França. Agora em Voyage Part II vamos contar com temas franceses, temas das primeiras composições que fizemos cá juntamente com compositores franceses. É uma experiência nova para nós, estamos ansiosos para mostrar às pessoas, mostrar ao público esta nova fase, digamos.
CM: Neste novo álbum já podemos ouvir a música Dis-le Moi com Tayc. Podemos esperar outras colaborações com artistas franceses, é isso?
Fradique: Nós temos vários projetos em carteira que ainda não lançamos. Por enquanto temos o Tayc, temos também outros featurings que fizemos neste Voyage Part II e eu acredito que vão gostar bastante. Durante todo o tempo no qual vivemos em França, aprendemos muita coisa e foi uma experiência fantástica. Isso também inspirou-nos a fazer o Voyage Part II, mas tem muitas coisas interessantes que vamos lançando no decorrer do ano, este e no próximo ainda, e acreditamos que as pessoas vão gostar lá em casa.
CM: Cantam em português, em crioulo e agora também em francês, porquê?
António: O nosso objetivo inicial sempre foi levar a nossa música o mais longe possível e esta decisão começou a nascer quando estivemos em Portugal, quando viemos para a França. Vimos que nós, como portugueses e santo-tomenses, falamos a língua portuguesa no nosso dia-a-dia. Achamos importante guardar a língua portuguesa nas nossas músicas. Depois começamos a adicionar os nossos crioulos que temos lá em São Tomé e também temos descendência de Cabo Verde, Guiné, Angola, e começamos também a adicionar isso.
A nossa passagem em França fez-nos fazer também essa mistura, expandir mais a música a cantar em português para outros países. Fez-nos cantar, colocar numa música essas mesmas línguas para assim conseguimos chegar a mais cantos no mundo, a mais ouvintes e levar a música a cantar em português e a cultura lusófona, PALOP, para mais longe.
CM: O vosso primeiro concerto em Paris foi no dia 7 de maio de 2019, na Olympia. Dia 10 de janeiro de 2025 vão estar na Accor Arena de Bercy. Estavam à espera de uma evolução tão importante e tão rápida?
Fradique: Nós acreditamos bastante no processo e sem dúvidas que no início não imaginaríamos que nesse período de tempo chegaríamos à Arena. Ao mesmo tempo, tentamos sempre superar cada ano colocando mais desafios. Fomos para a Olympia, passamos por vários sítios, aliás começamos no Salão de Chocolate em Porto de Versailles, em Paris. Depois do Salão de Chocolate começamos a tocar em alguns bares, depois em algumas festas, subimos, depois fomos para a Olympia, depois da Olympia fomos para o Palais du Sport e agora para a Arena no dia 10 de janeiro de 2025.
Acho que é isso: é colocar objetivos, trabalhar para alcançar esses objetivos. Temos um público fantástico que nos segue, deixa-nos muito felizes e orgulhosos e dá-nos aquela força para a gente continuar. Por isso é que a gente consegue colocar esses objetivos e lutar para alcançá-los.
CM: A Cap Magellan estava cá em 2019 e vai estar cá também em janeiro. Podemos ter alguma exclusividade sobre o Bercy
António: Claro, nós no Bercy estamos a preparar um concerto especial feito para esta data. Teremos alguns convidados, convidados franceses, convidados que estão presentes no álbum e convidados também portugueses que vão vir. Já sabem, é uma surpresa. As pessoas que lá forem vão poder descobrir lá e estamos a tentar trazer um espetáculo mesmo que marca os 15 anos, que marca também essa nova fase, novo desafio que é o mercado francês também.
Como o Fradique disse, temos um público imenso cá em França, graças também aos portugueses que estão cá, da lusofonia também, de PALOP, e aos franceses que também começaram a seguir o nosso projeto, o projeto Calema. Vamos torcer, estamos ansiosos aí para o dia 10 de janeiro fazermos a festa juntos aí com a Cap Magellan, com todos os convidados e sim, estamos ansiosos.
CM: Nós também estamos muito ansiosos e acho que vai ser uma grande festa. Falando da Cap Magellan, vi as fotos da noite de gala do hotel de Ville de Paris, organizado pela Cap Magellan, onde vocês cantaram com o Teófilo Chantre. Foi em 2013, dia 19 de outubro. Como é que foi? O que é que diriam ao Fradique e ao António deste tempo?
Fradique: Para mim, pessoalmente, diria para continuar a acreditar, continuar a trabalhar bastante. Nós fizemos isso intuitivamente, fizemos graças às pessoas que estavam à nossa volta e isso nos ajudou a chegar até aqui. Naquela altura, em 2013, muita coisa se passava na nossa cabeça, mas quando é para ser, acontece. Mas é preciso que a gente tome uma atitude, é preciso que a gente dê aquele passo, é preciso que a gente trabalhe bastante para acontecer.
António: O que diria naquela altura era que continuasse a fazer música, a gostar da música, continuasse a trazer, tirar para fora mensagem e continuar a acreditar. As coisas iam dar tudo certo à medida que acreditasse, que continuasse a trabalhar e aquela paixão pela música não morresse.
CM: E deu tudo certo mesmo, parabéns. A minha última pergunta é uma pergunta mais geral: têm uma mensagem para os jovens lusodescendentes?
Fradique: A todos os jovens lusodescendentes, que continuem a voltar, quando têm saudades. Voltar para matar a saudade da terra, dos familiares, isso enche-nos o coração. Nós, quando vivíamos em França, cada vez que voltávamos para Portugal e para São Tomé e Príncipe, sentíamos uma felicidade enorme no coração. Que a gente continue a dar oportunidades, continue a abraçar aqueles que mais precisam e só dessa forma é que nós conseguimos ter um mundo melhor, ter muita fé e trabalhar para conseguir atingir os objetivos.
António: Não esquecer de viver. Estamos num dia, estamos numa sociedade, numa época onde é tudo corrido. Não se esqueçam de viver, não se esqueçam de serem felizes. Como o Fradique disse, de vez em quando aquela ida à terra enche o coração, dá aquela energia. Permite ser feliz, viver cada dia da melhor forma, carregar com um sorriso no rosto e ver sempre o lado positivo, porque isso é que nos dá esperança e isso é que nos mantém a ir para a frente.
CM: Muito obrigada António e Fradique! Convidamos toda a gente a comprar os seus bilhetes para o Accor Arena dos Calema.
Agradecemos pela oportunidade desta entrevista, que passou no programa Tempestade 2.1 no dia 9 de novembro de 2024 e que está disponível em vídeo no YouTube da Cap Magellan.
Convidamos obviamente toda a gente a comprar os seus bilhetes para o Accor Arena, mas também a ouvir o álbum Voyage Part II e a seguir os Calema nas suas redes sociais : Instagram, Facebook, YouTube, TikTok, Linktree.
Entrevista realizada pela Julie Carvalho, de Os Cadernos da Julie, e a Laura Padrão para a Tempestade 2.1 e a Cap Magellan.