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30 mai 2023A cantora Lura atuou na Olympia de Paris no dia 11 de Maio de 2023 para um concerto caritativo com a associação Helen Keller Europa. O concerto acabou-se com um cocktail. Foi mesmo um sucesso! Julie Carvalho, membro da Tempestade 2.1, o programa da Cap Magellan na Rádio Alfa, teve a oportunidade de falar com a artista antes do show.
Cap Magellan: Bem-vinda à Paris! Não é a primeira vez que vem cantar nesta cidade. O que acha da energia e do público parisiense?
Lura: Gosto muito de Paris. Gosto muito da cidade. Já atuei muitas vezes em várias salas diferentes aqui. Tive editora francesa e fiz a primeira parte de Cesária Évora no Grand Rex alguns anos atrás. Adoro Paris! Gosto da língua francesa. Em Portugal, o francês faz parte da matéria que damos na escola. Aprendi a falar francês na escola e sempre achei o francês uma língua muito romântica, muito charmosa. Já tive a oportunidade de vir aqui várias vezes e gosto muito. Para o Olympia, já tive a oportunidade de cantar aqui no Victoire de la Musique e também já atuei aqui com a Cesária Évora. Tem sido já um percurso de voltas a Paris!
Cap Magellan: Hoje está aqui para um concerto caritativo com a associação Helen Keller Europa. A cegueira é mesmo um assunto importante para si?
Lura: Claro, como é óbvio. Acho que toca-nos a todos! É um assunto extremamente delicado. Não consigo imaginar a minha vida sem ver o sol. Sentir o sol é uma coisa, agora ver a paisagem, a natureza tão bonita, ver as pessoas que amamos, ver o caminho para ir aos sítios, ver a nossa casa, ver tudo! Realmente é algo que me toca imenso. Acho o trabalho de Helen Keller um trabalho de imenso valor e todo o trabalho que têm de prevenção da cegueira também. Quando o mal acontece, muitas vezes já não há muita coisa a fazer, mas a prevenção é super importante! O cuidado que têm é também na questão da má-nutrição, que é uma das causas da cegueira. Têm muitas ações na má-nutrição e isso é interessante, porque ajudam as pessoas a prevenir a cegueira. Segundo o estudo da International Agency For Prevention of Blindness, 90% dos casos de cegueira são evitáveis e eles trabalham precisamente na prevenção da cegueira e de problemas com a visão. Acho que é um trabalho super super válido. Mesmo a própria Helen Keller foi um exemplo de força, um exemplo para nós todos que vemos, falamos, fazemos tudo normal! Às vezes andamos a queixar-nos “Ah a vida é tão dificil”. Coitada da mulher não via, mal falava, tinha falta de tantos órgãos vitais e teve um percurso tão notável e exemplar. É uma causa com a qual estou a amar poder colaborar!
Cap Magellan: E também é pouco conhecida, é uma pena.
Lura: É conhecida de forma muito particular. Acho que é uma coisa que realmente devia ser conhecido ao nível das massas. Mas vai ser, com ações como esta, aqui nesta sala tão emblemática de Paris, com o contributo meu e de outros artistas que queiram colaborar, ajudar e apoiar esta causa, dando a sua voz para poder fazer este echo chegar mais longe! Acredito que mais pessoas vão conhecer Helen Keller.
Cap Magellan: Antes de poder ouvi-la no palco, queria fazer um pequeno ponto sobre a sua carreira. Nasceu em Lisboa, de pais caboverdianos. Começou a cantar com Luka, cantor de São-Tomé-e-Príncipe, aos 17 anos. O seu primeiro álbum saiu em Portugal em 2004 e fez uma carreira internacional. Teve a oportunidade de trabalhar com nomes como Mário Lúcio e Cesária Évora. Cantou com ela na música Moda Bô.
Lura: Foi escrita por mim. Fui eu que escrevi para poder cantar com a Cesária Évora em palco.
CM: Foi um orgulho cantar com ela?
Lura: Claro que foi.
Cap Magellan: Quer ir mais longe na sua carreira? Colaborar com novos artistas? Internacionais?
Lura: Quero obviamente ir mais longe na minha carreira. Quero crescer, quero aprender com os meus colegas que me possam mostrar mais caminhos, mais mundos, mais música e mais qualidade musical! Quero colaborar com pessoas com quem faça sentido no meu percurso futuro. Claro que sim com artistas internacionais e sair um pouco do universo apenas caboverdiano. Estou mesmo receptiva a colaborar o mais que puder com artistas franceses também, portugueses, whatever, claro que sim! Já tenho uma colaboração com Gaël Faye. Quero obviamente continuar! Estou aqui para crescer e continuar a aprender.
Cap Magellan: Já tem algumas ideias? Podemos esperar alguns nomes?
Lura: Nada confirmado. Tenho previsto para já um dueto com Angélique Kidjo no próximo disco. Vocês estão a saber em primeiríssima mão! Realmente este é o próximo passo que me faz muito feliz na carreira.
Cap Magellan: Sua carreira é internacional e, aliás, foi nomeada nas Vitórias da Música em 2006 na categoria Melhor Álbum de Músicas do Mundo. Isto tudo cantando em criolo! É incrível! Esta língua é mesmo muito importante para si, porquê?
Lura: O criolo é importante por causa de ser a língua materna, a língua dos meus pais e das minhas origens. Sou uma mulher negra nascida num país da Europa, em Lisboa. Acabo por ter esta necessidade de voltar às origens, de perceber de onde é que eu vim, para onde é que eu vou, porque é que estou aqui, porque é que nasci em Lisboa… Toda esta história para mim é muito importante. De facto, a primeira língua que aprendi a falar foi o português. É a língua na qual me expresso melhor. Mas sempre cantei em criolo. Realmente é incrível que seja notada cantando em criolo, fico muito feliz. Isso quer dizer que, para além da língua, há outras coisas na minha música que chamam atenção e que tocam as pessoas. Isso é bom saber! O português é a língua que vem imediatamente a seguir. Quero cantar em português e, aliás, no próximo disco já canto mais em português. Já tenho temas escritos por mim em português.
Cap Magellan: Permite também dar de conhecer o criolo internacionalmente e dar vontade a jovens de falar criolo. Também é um objetivo?
Lura: Claro, é valorizar a língua mãe. A língua materna é muito importante. Sou uma mulher com dupla nacionalidade. Não vou desfazer nem o português nem o criolo. Criolo é a língua materna, português é a língua oficial. Onde nós nascemos e vivemos a nossa infância é algo que nos marca muito e eu na minha infância aprendi o português. Para mim, o português anda de mãos dadas com o criolo, que é a língua mãe, a língua de casa. O português tem essa abrangência da lusofonia, que acaba por abrir Cabo-Verde para toda a lusofonia, para todos os países de língua portuguesa. Acabamos por ter esta mais valia dos dois lados. É uma riqueza!
Cap Magellan: No final do mês de abril saiu o single Si Si e o videoclipe ao mesmo tempo. O que representa esta música e como veio a ideia do clipe?
Lura: O clipe surgiu por causa das cores. Adoro cores. Sou um pouco como uma criança: tudo que seja colorido, com cores variadas, gosto muito. Às vezes, os stylists dizem-me “Lura devias ir vestido de preto” e eu “De preto? Porquê?”. Parece que tira a luz do rosto. Gosto de cores. O próximo disco vai ser muito focado nas cores, na multiculturalidade. As cores acabam por retratar de forma gráfica esta multiculturalidade, multicolor. Uma pessoa com muitas cores. É isso que quis mostrar neste clipe: um clipe moderno, com uma abordagem gráfica mais visual e em que estão bem presentes três cores básicas. Também a música com danças, com ritmo! São as coisas de que gosto. Representa aqui três aspetos que me cativam imenso.
Cap Magellan: Quais são as mensagens do próximo álbum?
Lura: As mensagens são focadas na identidade, na multiculturalidade e no valor que damos à mulher, a amizade das mulheres, o amor próprio na mulher… Nesta sequência da auto-estima, da valorização do ser feminino como uma pessoa emancipada e o empoderamento feminino, da mulher, de ti própria. É muito importante nós, as mulheres, sermos confiantes e termos uma auto-estima trabalhada ao longo do tempo. Termos um auto-conhecimento de nós próprias para podermos valorizar e respeitar a nossa pessoa, valorizar as outras mulheres. Nós, as mulheres, temos muito em comum: temos muita empatia, basta olhar para a outra mulher para perceber quais são as mais valias, as fragilidades, as dores da outra mulher, porque nós também temos igual! É muito mais fácil percebermos outra mulher do que outro homem. Ele é que nos tem que contar como é que ele sente, nós já sabemos. Às vezes as mulheres agem uma com a outra como se não conhecesse o mundo da outra mulher. É claro que conhecemos! Nós somos muito fortes e somos a base da sociedade humana. Somos um elemento importante em todas as sociedades, nas famílias, cuidar das crianças. Nós geramos a vida, dentro de nós. Se nos unirmos como amigas e respeitarmos as outras mulheres, tornamo-nos mais fortes e tudo isso torna-se muito maior!
Cap Magellan: A Cap Magellan é uma associação de jovens lusodescendentes. Tem uma mensagem para estes jovens?
Lura: Também sou uma lusodescendente. Quero transmitir uma mensagem sobre a importância da nossa identidade. O facto de termos duas nacionalidades, ou termos nascido num lugar mas sermos de origem de outro lugar, não nos torna inferiores, não nos torna uma minoria. Torna-nos mais fortes, mais ricos! A multiculturalidade está presente em nós. Nesta comunidade lusófona, já somos ricos de natureza, porque a mistura das raças e dos povos faz de nós muito melhores culturalmente. Orgulhem-se da vossa identidade e da vossa condição de dupla nacionalidade!
Entrevista realizada por Julie Carvalho, membro da Tempestade 2.1 e estudante de terceiro ano na escola ISMaPP.