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26 février 2024Mazé Torquato Chotil é uma jornalista e autora brasileira morando em França. Também é presidente da União Europeia de escritores de língua portuguesa (UEELP). Apresentava os seus livros durante o festival Brésil en mouvements, pela associação Autres Brésil. Tivemos a sorte de falar com ela nestes dias e deu-nos uma entrevista exclusiva.
Cap Magellan: Boa tarde, espero que esteja tudo bem consigo. Encontramo-nos no festival Brésil en mouvements. Porque é um festival tão importante para si?
Mazé Torquato Chotil: É um festival muito importante para o Brasil. Existem dois festivais brasileiros e é excelente de mostrar lados brasileiros: o Brésil en mouvements permite mostrar uma parte que a gente tem. Autres Brésil é um grupo militante e a gente tem o prazer de fazer parte desse grupo há muito tempo. Então porquê com a banquinha da UEELP (União europeia de escritores de língua portuguesa)? Porque justamente é um lugar de passagem. Temos produtos brasileiros, mas também livros, porque é o momento de mostrar aos brasileiros que vêm aqui, que gostam do Brasil e que têm uma relação com o nosso país, o que fazemos. É também para os brasileiros que estão com saudades de pão de queijo, de cerveja brasileira, de conversar também! É um momento interessante para trocar ideias.
Cap Magellan : Já viu os filmes? Gostou?
Mazé Torquato Chotil: Há filmes dos quais gosto porque vêm de livros. O primeiro fala dos indígenas, de uma reserva indígena do Durazno, que precisam de ajuda. Estudei esse livro em português e o traduzi em francês de forma a dar 7 euros para a associação de essa reserva que tem como objetivo desacionar as nascentes da reserva. É uma reserva que, desde o mês de setembro passado, tem muitos problemas e desfigurações. Temos vários filmes que tratam dos indígenos, da problemática indígena no Brasil. É um momento de confraternização, gosto muito de festas e aqui é uma festa onde podemos falar de coisas sérias, mas aproveitando esse ar de festa e de encontro.
Cap Magellan : E qual é o objetivo da UEELP (Union européenne des écrivains d’expression et de langue portugaise) ?
Mazé Torquato Chotil: Temos 2% das traduções aqui na França, ou seja, manos de 2% das produções realizadas na França são traduções de língua portuguesa (Portugal, Brasil, Cabo-Verde,Angola e Moçambique). Não é normal ter tão pouca representatividade. O que a gente quer dessa União é de ter forças juntas para divulgar, para ter mais acesso às traduções e às casas de editores. É uma grande luta. Desejamos fazer no ano que vem um Salão de Livros de língua portuguesa. Temos muito para fazer, a comunicar, etc. Não temos muito tempo, mas estamos fazendo.
Cap Magellan: A senhora escreve em português e depois traduz em francês, é isso?
Mazé Torquato Chotil: A minha língua é o português, mas o primeiro livro que escrevi foi em francês, porque o tema era sobre operárias das indústrias da confecção, que morreu em todo o país nos anos 70 e 80 e que terminou sem indústria, tirando emprego a 1 000 pessoas. Acabou. Foi em francês. Depois escrevi um outro em francês Trabalhadores exilados ou L’exil ouvrier porque é um trabalho de pesquisa na escola de Estudos de ciências sociais. Traduzi o trabalho porque estou preocupada com a memória e acredito que a gente tem de ter essa preocupação. É uma história brasileira, mas a França deu muita abertura a esses exilados: a França recolheu muitos exilados. O José Ibrahim, por exemplo, foi um dos exilados responsáveis sindicais. Ele criou a Casa da América latina e ele sempre ajudou. Fiz também três romances sobre a lembrança do sítio, que foi traduzido pelo Dominique Stoenesco Lembranças do sítio, Lembranças da Vila e a Minha aventura na colonização do Oeste (que ainda não foi traduzido). Essa intenção é justamente de ter possibilidades de traduzir. Esse livro, que traduzi eu mesmo, porque é um livro militante para levar dinheiro, leva reforços para essa Aldeia que muito precisa.
Cap Magellan : Também faz livros para crianças ou é só para adultos?
Mazé Torquato Chotil: Na realidade, eu não penso em fazer livros para crianças ou para adultos. Tenho vontade de escrever sobre essa experiência que é baseada na minha experiência de vida. Pensei em escrever alguma coisa sobre uma experiência, com a experiência da Maria d’Apparecida, uma biografia que escrevi sobre uma cantora brasileira, uma cantora lírica que não pôde fazer campanha no Brasil nos anos 50 porque era negra. Aliás ela nunca cantou no palco principal. Foi por isso que teve que ir dar um outro jeito, foi para Europa, cantou cá, em Paris entre outros. A carreira lírica nem sempre dá espaço para a música popular brasileira ou para outro estilo de música e ela teve esse tipo de trânsito. Acho que ela morreu em 2017 praticamente esquecida do povo. Foi por isso que a gente criou uma associação “Os amigos Maria d’Apparecida” e aí eu também traduzi o livro dela do português para o francês. Acordei os direitos para a associação para pagar a divulgação, para recuperar os arquivos que ela tinha e foi uma experiência fantástica num tempo complicado.
Cap Magellan: Há então uma ideia de divulgar ao público português, francês e lusófono em geral a vida do Brasil, dos indígenas e de todos os povos que decidam ser destacados, não é?
Mazé Torquato Chotil: Para mim é. Para mim é uma aprovação de memória. O Brasil mudou muito nessas últimas décadas e acho necessário de ter uma preocupação com a memória. Por ser jornalista, tenho essa preocupação de servir à memória. A união é isso: defender todas as culturas entre o português de Portugal, do Brasil, e do outro lado do mundo. São portugueses, histórias, relações e experiências diferentes que a gente tem de conhecer. A luta é muito importante.
Cap Magellan: Tem uma riqueza cultural, linguística e histórica incrível.
Mazé Torquato Chotil: Incrível e a gente deve de o proporcionar ao povo francês, por estarmos aqui. Trabalhei imenso juntamente com todo o espaço europeu, porque há muitos brasileiros agora e portugueses em todos os lugares de toda a Europa e de todo o mundo.
Cap Magellan: Tenho uma última pergunta, é uma pergunta que faço ao final de cada entrevista. Tem uma mensagem para os jovens lusodescendentes?
Mazé Torquato Chotil: Para os jovens, eu acho importante Portugal porque os portugueses têm uma política de cultura: eles integram muito, eles se integram muito bem na cultura francesa que eu acho que devem porque a gente está num país diferente. Mas isso não impede da gente ser a gente mesma e juntar culturas.
Cap Magellan: Obrigada Mazé! Espero que voltaremos a ver-nos no Salão de livros da UEELP!
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Entrevista realizada pela Julie Carvalho,
de Os Cadernos da Julie
Transcrição pela Sophie Abreu.