Primeiro evento organizado pelo projeto Soundscape Portugal

Soundscape Portugal é o canal da nova música portuguesa lançado em 2022 pelo realizador francês Yoann Le Gruiec, que já trabalhou para canais como Arte ou France Télévisions, e por uma equipa composta por franceses e portugueses, para dar a descobrir e promover os talentos locais portugueses e levá-los a um público mais internacional. O projeto nasceu durante o segundo confinamento, quando o realizador descobriu que havia no país toda uma cena musical que ele desconhecia.

No dia 11 de dezembro 2023, teve lugar na Maison du Portugal em Paris o primeiro evento Soundscape Portugal por terras francesas, com a presença do realizador e fundador do projeto Soundscape Yoann Le Gruiec, da DJ luso-brasileira King Kami, que foi uma das duas representantes portuguesas nas Transmusicales de Rennes em 2023 – com a Ana Lua Caiano – , do jornalista luso-francês Simon da Silva da revista Les Inrocks, animado e moderado por um dos membros da equipa Soundscape, Mickaël Cordeiro.

Uma conversa que serviu para apresentar a história do projeto Soundscape Portugal, para falar dos novos talentos da música portuguesa, das cenas afro-portuguesa, luso-brasileira, e LGBT+ e da contribuição destas mesmas para a renovação da música feita em território português, tendo sempre o cuidado de desmistificar essas grandes categorias, as cenas afro-portuguesa, brasileira, ou LGBT+ sendo elas mesmas compostas por grupos e artistas muito diversos.

O objetivo era também abordar outras questões mais históricas e societais, como por exemplo explicar a chegada e a presença da imigração africana em Portugal, e dar um passo atrás voltando a dar destaque a alguns sucessos musicais de artistas e bandas portuguesas com origens nos PALOP. O papel que tiveram os Buraka Som Sistema na promoção da música portuguesa e lusófona a nível internacional foi por exemplo um dos pontos salientados por Simon da Silva.

A ideia era obviamente desconstruir tudo isto e chegar a uma definição do que é a música portuguesa, bem mais abrangente e inclusiva: uma música feita em território nacional, com letras em português, em inglês, em crioulo, em espanhol, ou apenas instrumental, mas que também pode ser criada no estrangeiro por comunidades lusodescendentes e emigrantes ou por apaixonados pela cultura portuguesa.

A DJ King Kami explicou a chegada numerosa dos talentos brasileiros e alguns LGBT+ nestes últimos anos, apontando como uma das principais razões a instabilidade política, depois da destituição de Dilma Roussef e durante a presidência de Jair Bolsonaro, assim como a liberdade de expressão maior em Portugal. No entanto, a artista continua a dizer que “é preciso ir mais longe no que diz respeito aos direitos da comunidade LGBT+, como por exemplo permitir que haja mais espaços noturnos, e não só, seguros para eles” em Portugal.

A mesa-redonda, com pausas que permitiram a visualização de 6 vídeos realizados por Yoann Le Gruiec (Criatura, nas Minas da Panasqueira, no Fundão, Surma, no Farol da Nazaré, Scuru Fitchadu em Almada, DJ Danifox, na Tapada da Ajuda, em Lisboa, Fado Bicha, no Hub Criativo do Beato, em Lisboa, Shaka Lion, no Barreiro e um inédito), juntou cerca de 100 pessoas, maioritariamente jovens, luso-franceses, lusófonos caboverdianos, brasileiros, angolanos, e também uma dezena de franceses.

Este primeiro evento foi considerado um sucesso pela equipa organizadora que já está a trabalhar para organizar um segundo evento, idealmente no primeiro semestre de 2024 e com a atuação de um artista. “Estamos muito felizes, a sala estava cheia, tivemos um público muito diverso, uma professora veio com uma dezena de alunos, vieram jornalistas, pessoas de todas as origens… correu tudo bem, temos de repetir!”

De notar que no dia 21 de dezembro, Soundscape Portugal publicou o seu último vídeo com o DJ Stereossauro e a fadista Ana Magalhães, nos jardins das Termas das Caldas da Rainha. O tema Batimento é uma das músicas do último disco do artista, intitulado Tristana, lançado em 2023 e que foi dos mais aclamados pela imprensa portuguesa.

 Mickaël Cordeiro

Crédits photos: Magali Madeira, Yoann Le Gruie