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29 janvier 2021Richard Zimler nascido a 1 de Janeiro de 1956 em Roslyn Heights, no estad de Nova York. A viver em Portugal, mais propriamente no Porto, desde 1990, este romancista luso-americano autor de inúmeros bestsellers, lançou no passado mês de Janeiro a sua obra “Lazare”, na versão francesa. A Cap Magellan teve a oportunidade de conversar com ele, nesta ocasião tão especial!
Cap Magellan: Como definiria ser-se Luso-americano?
Richard Zimler: A cidadania é um contrato entre o indivíduo e o país, então, ser luso-americano para mim é ter dois contratos. Porém, há uma diferença. A minha cidadania americana foi automática visto que eu nasci lá, por isso estou grato por me terem dado a cidadania Portuguesa.
Cap Magellan: O Richard já se sente tripeiro de gema?
Richard Zimler: (Risos) De gema não sei, nasci noutro país! Mas estou em Portugal há 30 anos, maior parte desse tempo no Porto, e há um investimento, uma ligação emocional, física e espiritual forte com o Porto. Há pessoas que me dizem que em certas palavras tenho sotaque portuense! (Risos)
Cap Magellan: A cultura e a sociedade portuguesa influenciam a sua escrita? Isto é, já ganhou espaço no campo da sua inspiração?
Richard Zimler: Sim, Portugal tem uma influência enorme na minha escrita. Eu já escrevi 5 livros diferentes, num ciclo que estou a fazer, sobre uma família portuguesa e judaica, então os livros exploram a vida de várias gerações e ramos desta família.
Eu adoro a história portuguesa, para mim é fantástico lidar com a cultura e a história portuguesa porque eu posso pegar em qualquer parte do planeta, Indonésia, América do Sul, América do Norte, logicamente Portugal, África… E encontrar uma comunidade de portugueses e falar sobre esse cruzamento entre Portugal e esses países estrangeiros o que eu acho fascinante. Portugal, como não poderia ser uma influência enorme? Estou a viver cá há 30 anos!
Cap Magellan: A escrita. Como é o processo criativo?
Richard Zimler: Quando eu escrevo um romance eu sei mais ou menos o que vai acontecer no primeiro capítulo, mas eu não faço a mínima ideia do que vai acontecer no resto do livro. Pode parecer estranho, mas o processo é assim. É como a vida! Programar todo o livro antes de o começar a escrever, torna o enredo muito artificial, muito pouco fluído.
A história do livro é o fruto da minha pesquisa. Por exemplo, no meu livro “Lazare” eu fiz muita pesquisa sobre toda a vida quotidiana na Terra Prometida, na Terra Santa de há 2000 anos. Adorei fazer essa pesquisa, que me levou entre 6 a 9 meses. A história saiu naturalmente. Como posso decidir o enredo de uma história sem saber como as pessoas viviam? Era impensável.
Então, o processo é fazer muita pesquisa e depois é tentar construir o primeiro capítulo, as personagens e começar a escrever. O primeiro capítulo determinará o resto do livro. Honestamente, a pesquisa para mim é a parte mais fácil, adoro ler e estudar estes assuntos, o mais difícil é escrever um livro que seja cativante e poético, cada frase tem que transmitir exatamente aquilo que eu quero dizer.
Cap Magellan: O senhor aborda com regularidade o Holocausto. Gostava de saber o que é que o atraí neste tema?
Richard Zimler: Uau. Há várias respostas possíveis.
Primeiro, eu cresci no seio de uma família judaica, laica, quer dizer, os meus pais não eram religiosos, o meu pai era um comunista completamente doido (risos), a minha mãe era uma cientista bioquímica, ela gostava de celebrar as festas judaicas, mas não íamos à sinagoga com frequência. Porém, cresci naquele ambiente de cultura judaica. O Holocausto tornou-se o centro da história moderna para todos os judeus. É impossível ser judeu e não viver isso.
Na nossa família, do lado materno perdemos, literalmente, centenas de familiares, tios e tias da minha mãe, porque a minha avó materna deixou 8 irmãos na Polónia, no início do século XX, daí todos aqueles tios e tias da minha mãe, faleceram. Todos os primos inclusive.
Apenas sobreviveu uma pessoa, um primo direto da minha mãe, que estava a trabalhar em Bruxelas, quando a guerra começou. Ficou em Bruxelas, foi preso pelos Nazis, mas sobreviveu, e curiosamente eu estou em contacto com a filha dele, que ainda vive em Bruxelas. Então, quando um judeu olha para a Europa é um grande vazio, porque se não tivesse havido esta passagem da história, eu teria centenas de parentes a viverem na Polónia, provavelmente na Alemanha, na França… E não tenho, tenho um só parente.
A 2ª razão é que qualquer ser humano que quer entender o melhor do ser humano, por um lado, e o pior, por outro, tem de estudar o Holocausto. Porque é uma passagem da história em que nós encontramos os dois extremos.
Existiram pessoas como Aristides de Sousa Mendes, que passou vistos a judeus para fugirem, arriscando a sua vida. Gente magnífica, com uma coragem inacreditável. Mas também temos o pior, como sabemos.
A 3ª razão, se não compreendermos a dimensão deste crime, somos capazes de ser manipulados por políticos sem escrúpulos. Se não conhecermos o que levou a que o Holocausto acontecesse podemos ser seduzidos por políticos com os mesmos princípios. Conhecer o Holocausto é uma vacina contra a manipulação.
Cap Magellan: E agora sobre esta sua obra que vai lançar a 28 de Janeiro, “Lazare”. Qual é o motivo do sucesso?
Richard Zimler: Bom, eu sempre achei a história do Lázaro fascinante, a ideia de estar morto e depois ressuscitar, ter uma segunda oportunidade de viver a nossa vida. Eu acho que esta história foi muito mal aproveitada na literatura.
Segundo, eu sempre fiquei um pouco irritado pelo facto de as pessoas pensarem que Jesus Cristo era cristão, pois, ele era judeu, nunca renunciou ao seu judaísmo. O que eu queria fazer com este livro era devolver a Lázaro e a Jesus Cristo o seu judaísmo. Isso para mim era fundamental.
Também queria falar de outra coisa, Lázaro perde a sua fé, porque sempre lhe foi dito que depois da morte havia um céu, anjos e Deus, mas ele não tem nenhuma memória de experiências além da morte, por isso, ele sente-se muito perturbado. E com quem é que ele vai desabafar sobre essa sensação? Com o seu grande amigo de infância, Jesus Cristo. E porque é que são amigos de infância? Isto, para mim, é muito entusiasmante. É que S. João, no seu Evangelho, diz que Lázaro era o amigo amado de Jesus Cristo.
Daí, eu comecei a história pensando que eles eram amigos de infância, que as famílias se conheciam. Então, imagine se o seu melhor amigo fosse um homem tão poderoso espiritualmente e que estavas prestes a viver a pior semana da sua vida? A semana da paixão. Obviamente, isso criava uma situação incrivelmente dramática, para não dizer trágica, na vida do Lázaro.
Assim a história tinha estes elementos diferentes que me entusiasmavam.
Cap Magellan: O confinamento vai dar origem a uma nova obra?
Richard Zimler: Não propriamente.
Mas estou a escrever um romance já há dois anos. Fiz muita pesquisa sobre Portugal no século XVII. Fala sobre a influência da Inquisição numa aldeia, que eu adoro, que é a Aldeia de Castelo Rodrigo.
É uma história muito grande e que eu adoro. Talvez termine em Junho ou Julho. Está a levar tempo, mas é bom, significa que no confinamento, tenho um sítio onde me sinto realizado.
Cap Magellan: Se não fosse escritor, seria o quê?
Richard Zimler: Gostaria de ter muito dinheiro para fazer a diferença no mundo!
Noutra hipótese mais realista, gostaria de ser jardineiro! É muito bom ver uma semente tornar-se em árvore! Gosto muito de ver crescer as plantas, de cuidar delas. Isso é espetacular.
Cap Magellan: Muito obrigada pela sua disponibilidade e espero que nos possamos reencontrar em breve!
Richard Zimler: Obrigado eu! Foi um gosto.
No passado dia 28 de Janeiro de 2021, Richard Zimler lançou a sua obra “Lazare”, na sua versão francesa. Um romance de perder o fôlego muito aclamado pela crítica!
Article publié dans le CAPMag de février 2021
Joana Carneiro