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4 juin 2018[:fr]
Pela primeira vez, uma delegação portuguesa vai participar nos Gay Games. Este ano, a 10ª edição do 2° maior certame desportivo do mundo terá lugar em Paris. Uma ocasião para a comunidade portuguesa e lusodescendente em França poder participar com as cores de Portugal no evento.
De dia 4 a dia 12 de agosto terá lugar, pela primeira vez em Paris, a 10ª edição dos Gay Games. Nascidos nos Estados-Unidos em 1982, os Gay Games são a maior manifestação desportiva depois dos Jogos Olímpicos. O evento tem lugar de quatro em quatro anos e é aberto a toda(o)s, profissionais ou amadora(e)s, independentemente da sua orientação sexual, sendo que o mais importante é que a(o)s participantes se revejam nos princípios de respeito, solidariedade, igualdade e inclusão.
Segundo a Federação dos Gay Games, o objetivo do evento é o de “promover e aumentar o auto-estima de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e todos os indivíduos sexualmente flexíveis ou variantes de gênero (LGBT+) em todo o mundo e promover o respeito e a compreensão dos outros.”
Para além da componente desportiva, os Gay Games são também um evento cultural com várias iniciativas previstas como concertos, exposições, conferências, sessões de cinema e visitas guiadas.
Portugal estará pela primeira vez representado através de uma delegação nacional. “Ainda que nas edições anteriores já tenha havido a participação de atletas portugueses, esta será a primeira participação de uma comitiva organizada”explica Gonçalo Venceslau Bernardino, Secretário-Geral da Boys Just Wanna Have Fun (BJWHF), uma associação que assegura uma grande parte das participação dos desportistas portugueses nos Gay Games. Esta associação de desporto inclusivo foi fundada em 2010 na sequência da formação de uma equipa de rugby e com o objetivo de lançar outras modalidades. Atualmente, a BJWHF desenvolve quatro modalidades (rugby, natação, volley e futebol) e duas atividades (tango e corrida). O principal objetivo da BJWHF é “a inclusão de todas as pessoas através do desporto, independentemente da sua orientação sexual, raça, cor, religião, etc.”.
O porta-estandarte da delegação portuguesa será o judoca Célio Dias, atleta olímpico de 25 anos, que participou nos jogos olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro e em diversas competições mundiais. O atleta fez este ano um coming-out público e em declarações ao site esQrever explica que o desporto “tem tanto de cruel como de salvador” e que conhece situações de discriminação, mas que “o desporto fala a linguagem da humanidade e do amor e ensina-nos sobre união.” Célio Dias afirma ter esperança que “daqui a vinte ou trinta anos – não direi vencer em absoluto o preconceito, mas que as pessoas possam ter as suas vidas de forma integrada na sociedade.”
Pascale Reinteau, co-Presidenta dos Gay Games, em entrevista à RTP, explica a importância dos desportistas poderem assumir a sua orientação sexual pois “quando não tens atletas assumidos, não tens ninguém com quem te identificar[…]. Teres referências ajuda muito” e denuncia a discriminação de que são vítimas as pessoas LGBTI. Pascale Reinteau explica, ainda, que “o desporto em geral é feito para a performance. É a ideia de ser forte, musculado, masculino. Um atleta gay é visto como mais fraco”. Os Gay Games pretendem, assim, passar a mensagem de que o desporto deve ser “uma forma de inclusão de toda a gente, em que o que importa é jogar e desfrutar e em que todas as diferenças são bem-vindas”.
Mais informações: www.paris2018.com
Luísa Semedo
A associação Variações na organização da participação portuguesa nos Gay Games
A Variações – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, presidida por Carlos Sanches Ruivo, é outra das estruturas que participa ativamente na organização da participação da delegação portuguesa nos Gay Games
Cap Magellan: A delegação portuguesa vai ser constituída de quantos participantes e em que modalidades?
Carlos Sanches Ruivo: Neste momento, apontamos para cerca de 30 a 50 participantes. Teremos, por exemplo, jogadores da associação de desporto inclusivo Boys Just Wanna Have Fun (BJWHF), da Associação ILGA Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo e até já tivemos alguns lusodescendentes que nos contactaram para poder participar. E esperamos que mais se juntem a nós. As modalidades em que vamos participar são o voleibol, a natação, o atletismo, o râguebi e talvez futebol.
CM: O porta-estandarte será o judoca Célio Dias…
CSR: Sim, o Célio Dias é um atleta olímpico. Fez o seu coming-out há poucos meses e tem vontade de se investir em questões de diversidade, inclusão e igualdade, nomeadamente no desporto e é uma honra poder contar com a sua presença e apoio.
CM: E têm apoios institucionais?
CSR: No Fórum IDAHOT (International Day Against Homophobia and Transphobia) de 2018, que teve lugar em Lisboa, pudemos estabelecer contactos com o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, que nos disse que estaria presente em Paris com a delegação portuguesa.
CM: Para além do desporto, os Gays Games também têm uma componente cultural. Portugal vai participar com alguma iniciativa?
CSR: Sim, vamos propor um Meet&Greet com a delegação portuguesa e a participação do grupo Fado Bicha, com o cantor Lila Fadista que é um Drag Queen e o guitarrista João Caçador. Para além de promoverem o fado português, também transportam uma mensagem: os fado Bicha entram em interação com o público, veiculando uma mensagem Queer, cantando também textos de poetas da comunidade LGBTI. Para além disso, a organização pediu-nos para participarmos com uma atuação de 15 minutos no espetáculo “Le monde à Rendez-vous à Paris” dia 7 de Agosto no grande palco do evento.
CM: E qual é o objetivo da Variações – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal ao apoiar esta iniciativa?
CSR: A Variações tem como principal objetivo defender e promover as atividades económicas direcionadas à população LGBTI, a nível nacional e internacional, e nesse âmbito promover Portugal para que seja considerado um dos melhores destinos turísticos LGBTI friendly. Neste momento, estamos a estruturar uma rede de organizações para podermos organizar mais eventos em Portugal, como por exemplo a Europride em 2019 ou os próprios Gay Games em 2026. A nossa participação nos Gay Games deste ano é também um passo nesse sentido. Queremos criar e propor eventos de qualidade e para isso criámos a campanha “Proudly Portugal”. Atualmente, estamos a viver um momento-chave, saímos de uma grave crise, há avanços importantes a nível de um contexto político mais progressivo. Portugal tem uma imagem muito positiva a nível internacional e o que não foi feito até agora por falta de vontade própria ou porque cada um defendia a sua capela, agora aparece como uma necessidade, e tornou-se óbvio que só trabalhando em conjunto é que é possível avançar. Foi desta vontade que nasceu a Variações. O plano estratégico do turismo 2017-2027 tem como um dos projetos prioritários o turismo LGBTI e queremos fazer parte desse projeto porque pensamos ter a capacidade e a legitimidade para o fazer.
Mais informações: www.variacoes.pt
Luísa Semedo
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