Espelhos de casa verde
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18 septembre 2020A Cap Magellan organizou o Encontro europeu de Jovens Lusodescendentes, cujo tema foi “Incluir a diferença: favorecer a empregabilidade de todos os jovens na europa”. O encontro, que contou com a presença de 50 participantes lusodescendentes e lusófonos provenientes de diferentes países, teve lugar na região da Comunidade intermunicipal da região Oeste, entre os dias 10 e 14 de agosto.
À semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores, a Cap Magellan, principal associação de jovens lusodescendentes em França, organizou o Encontro europeu de Jovens Lusodescendentes. Este ano, foi na região do Oeste de Portugal, nomeadamente nos concelhos de Óbidos, Alcobaça, São Martinho do Porto Caldas da Rainha, e Nazaré.
O Encontro Europeu reune 50 jovens lusodescendentes, lusófonos e animadores de juventude em Portugal que vêm de 8 países diferentes, que são: França, Portugal, Espanha, Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, e Reino Unido. Os jovens lusófonos são também originários de outros países não europeus: Brasil, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique e ainda o Peru.
O objetivo é não só valorizar o bilinguismo, a dupla-cultura e a multiculturalidade que têm em comum muitos dos jovens presentes, dar respostas aos jovens para quem a procura de emprego é mais difícil, mas também criar redes de jovens com experiência associativa e a nível europeu e internacional.
Este ano em contexto de pandemia, foi distribuído um kit de proteção aos participantes, para que estes se pudessem proteger devidamente ao longo do evento. Os jovens foram ainda sensibilizados quanto à troca obrigatória de máscaras ao fim de 4 horas e o respeito do distanciamento social. Também no âmbito das medidas sanitárias, os 50 jovens viajaram em dois autocarros diferentes. No restaurante “Paraíso do Coto”, na Pousada de Juventude de Alfeizerão e no local onde foram realizadas as formações, a AIRO (Associação industrial da Região Oeste), foram igualmente estabelecidas medidas de proteção.
A criação de um projeto comum de apoio a refugiados em Portugal
Durante 5 dias, os jovens trataram o tema: “Incluir a diferença : favorecer a empregabilidade de todos os jovens na Europa”. Este ano e pela primeira vez, a meta final do encontro era a criação de um projeto solidário de apoio e inserção profissional aos refugiados na Região do Oeste, que iria ser desenvolvido ao longo da semana e posteriormente proposto às três instituições/ empresas parceiras do projeto. São elas a AIRO (Associação industrial da Região Oeste), a Confeitaria Monte Verde e a PAR (Plataforma de Apoio aos Refugiados). Neste sentido, o programa do encontro continha seminários e atividades informais, dando assim, formação aos jovens para poderem partilhar ideias, experiências e concretizar o projeto. Para esta última tarefa, Vanessa Capela, consultora em fundos comunitários e Dário Gomes, responsável associativo, encarregaram-se de acompanhar e orientar os jovens.
Uma parte do grupo começou por encontrar-se, no domingo 9 de agosto, no Parque das Nações em Lisboa, rumo à Vila de Óbidos, onde passaram o resto da tarde. Os jovens tiveram a oportunidade de passear pela vila na qual puderam deliciar-se com as especialidades da região, assim como, fazer uma visita ao castelo e ainda experimentar o tiro ao arco. Ao fim do dia, o grupo dirigiu-se à pousada da juventude de Alfeizerão, em São Martinho do Porto, local onde iria passar as seguintes 5 noites.
O segundo dia do encontro, e primeiro dia de trabalho teve como tema: “Desenvolver as suas competências sociais para a empregabilidade”. Luciana Gouveia, Delegada Geral da Associação Cap Magellan realizou a apresentação do evento. Os dias seriam, assim, divididos entre um primeiro momento de formação, na parte da manhã, e por um segundo momento, mais lúdico, à tarde, onde os jovens poderiam realizar visitas culturais e ter momentos de descontração. Ao final de cada dia, iria ser feito um balanço final.
O primeiro atelier foi: “ Improvisa a tua comunicação”. Os jovens fizeram vários exercícios lúdicos, em que tiveram de se posicionar em estátuas para representar as palavras “amor”, “patrão” e “injustiça” e assim discutir as diferentes opiniões e pontos de vista.
Posteriormente, Eduardo Loureiro, representante da Fábrica de Cavacas das Caldas da Rainha, e da Confeitaria Monte Verde Lda, juntamente com Bruno Pinelas, Diretor Comercial e Marketing falaram sobre o seu negócio. Com origens há 40 anos, a Confeitaria Monte Verde produz, entre outros doces, as tradicionais bolachas de baunilha, também conhecidas como waffers. Os jovens tiveram uma visita guiada à Confeitaria Monte Verde no dia seguinte.
Os jovens trataram o seguinte tema: “A situação dos refugiados em Portugal”. Assistiram à intervenção de Carlota Muralha, representante da PAR (Plataforma de Refugiados), um projeto que visa mobilizar várias instituições e organizações da sociedade civil portuguesa para apoiar os refugiados e ao testemunho de Gália Tahki, tradutora e mediadora cultural também na PAR. Foi apresentado o trabalho desenvolvido pelo secretariado técnico da PAR e as questões sobre o financiamento de projetos. Galia Tahki, que chegou a Portugal como refugiada, explicou que o seu trabalho “não é desconstruir muros, porque eles existem, mas sim, construir pontes”. Galia contou aos jovens que devido à situação política e social instável na Síria, o seu país de origem, ela e a família viram-se obrigados a procurar um país que os pudesse acolher, tendo sido a primeira família síria a chegar a Portugal. Por fim, confessou que não gosta de usar o termo refugiados, preferindo o termo “novos chegados”, nem de usar o verbo “ser” no momento de caracterizar as pessoas que procuram asilo num país que não o seu país de origem, pois considera que “ser refugiado não é uma condição vitalícia, mas sim algo temporário”.
Dinis Silva, lusodescendente e residente na Dinamarca desde 2014 é estudante e treinador de futebol de crianças de 9 a 10 anos. Descobriu o evento através da sua mãe, que viu uma publicação no Facebook relativa ao encontro num grupo de “Portugueses na Dinamarca”. “Achei o assunto dos refugiados muito interessante. É um tema que deve ser falado. É muito importante, há muitos refugiados em todo o lado. Por exemplo, na Dinamarca até têm muita ajuda do Estado, o que é bom.”, admitiu Dinis. Revelou ainda que veio ao encontro “para aprender mais”.
À tarde, os jovens passearam por Alcobaça, onde tiveram uma visita guiada ao longo do percurso camoniano e onde visitaram o Mosteiro.
“Combinar bem estar e produtividade no trabalho” foi o tema de terça-feira, terceiro dia do encontro. O primeiro atelier consistiu na “Gestão do stress e das emoções”. Moderado por Clara Guimarães, originária do Brasil, atualmente a tirar doutoramento em Filosofia Política na Universidade de Sorbonne em Paris este atelier visou relembrar para a importância de fazer pausas, num mundo em que, muitas vezes, não temos “tempo para parar e para refletir bem”. Clara ensinou aos jovens algumas técnicas de respiração e estes tiveram a oportunidade de fazer exercícios de meditação.
O segundo atelier foi levado a cabo por Marta Bernardino lusodescendente nascida na Bélgica. Mestre em pedagogia histórica e tendo lecionado história e geografia no Congo durante dois anos, o seu atelier teve como tema: “Gestão do tempo e capacidade de organização”. Marta admitiu que o facto de a terem convidado para ser oradora no evento “foi uma grande surpresa”, uma vez que “não estava nada à espera”.
Marta propôs a realização, de uma forma dinâmica, do teste das inteligências múltiplas, enquadrada na teoria das inteligências múltiplas desenvolvida Howard Gardner, de forma dinâmica. Ao ler as diversas questões relacionadas com as atividades do dia e os jovens assinalaram se as questões correspondiam à sua personalidade, permitindo-lhes assim conhecer um pouco mais de si mesmos. Quanto ao encontro, a jovem considera que deveria haver mais iniciativas deste género, pois são “super enriquecedoras” e porque “é engraçado vermos que temos as mesmas preocupações enquanto jovens ou enquanto jovens adultos, estando no estrangeiro e termos às vezes duas ou mais culturas para partilhar”.
O grupo de jovens seguiu para a cerimónia oficial na sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste (CIM Oeste) que reuniu todos os representantes das instituições implicadas no encontro. Foi Pedro Folgado, Presidente da CIM OESTE e Presidente da Câmara Municipal de Alenquer que começou por fazer uma contextualização histórica do concelho de Caldas da Rainha, que caracterizou como “uma região jovem, que não existia há mais de 500 anos”. Aproveitou assim para dar as boas vindas aos jovens, à região do Oeste, uma região que considera “muito acolhedora”. Fernando Tinta Ferreira, Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha explicou, por sua vez, que a região “pretende fazer a diferença em termos de empregabilidade”, e que, deste modo, o encontro de jovens para estabelecer projetos nesta região “faz todo o sentido”. A Presidente da Cap Magellan, Anna Martins, revelou que o encontro de jovens que engloba sempre o dia 12 de Agosto, Dia Internacional da Juventude, “traduz o compromisso da Cap Magellan na promoção da juventude lusodescendente”, tendo reforçado que este ano o número de países representados aumentou em relação ao encontro do ano anterior. Por esse motivo, a Presidente havia começado por se dirigir ao público em diversas línguas: “Bom dia a todos; Bonjour à tous, Buenas tardes, Hello. Vou parar por aqui, porque senão, não vou conseguir falar em todas as línguas que aqui estão representadas”, brincou. Já Rita Saias, Presidente do Conselho Nacional de Juventude, constatou que “os jovens continuam a contribuir para a economia local quando vêm para Portugal fazer este tipo de atividades” e que a “resiliência” e “capacidade de adaptação” são as palavras que melhor descrevem esta camada da população. A Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes começou por constatar que não é “Secretária de Estado da Emigração” porque este conceito tem por detrás muitos. Revelou que é possível “combater estereótipos conhecendo-nos e tornando o outro mais visível”, que no caso das comunidades portuguesas “não é uma minoria assim tão pequena, porque temos 10 milhões de portugueses em Portugal e 5 milhões de portugueses e lusodescendentes no estrangeiro”. Para a Dra. Berta Nunes, “não há portugueses de segunda”, quer sejam portugueses residentes no estrangeiro, quer sejam portugueses que não residam nas grandes áreas metropolitanas do país.
O final da cerimónia foi marcado por uma intervenção em vídeo do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que não podendo estar presente fisicamente, deixou o seu “abraço virtual” aos jovens. Por fim, os jovens jantaram na companhia do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto João Paulo Rebelo, que dedicou algum tempo a responder às questões dos jovens e a trocar impressões com os mesmos.
O tema central do quarto dia do evento foi “Valorizar a sua diferença no mercado de trabalho”. O primeiro atelier teve como temática “Otimizar a sua imagem profissional”, dirigido por Pedro Rupio, a convite da Cap Magellan. O lusodescendente ativo na dinamização das comunidades portuguesas na Bélgica, outrora participante neste encontro, procurou chamar à atenção para a importância da imagem dos jovens nas redes sociais. Assim, neste atelier debateu-se a questão da privacidade nas redes sociais sociais. Os participantes revelaram estar a par do facto que as redes sociais são tidas em conta no processo de recrutamento.
Já no segundo atelier, “Valorizar as suas competências informais e interculturais”, dirigido por Célia Roque, diretora do Centro de Emprego da zona Oeste abordou-se a elaboração de um CV, as competências mais valorizadas pelos empregadores em Portugal, e as exigências para o futuro. Célia Roque explicou ainda aos jovens como fazer o registo no site do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) e introduziu o website, para aqueles que ainda não o conheciam. De seguida, os jovens continuaram a trabalhar na conceção do projeto de formação profissional dos jovens refugiados.
Na parte da tarde, o grupo de jovens foi até São Martinho do Porto, onde teve lugar uma ação de voluntariado com o IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) e com o CNJ (Conselho Nacional de Juventude). Para assinalar o Dia Internacional da Juventude a 12 de agosto, a ação de voluntariado consistiu na limpeza da praia de São Martinho do Porto através da recolha de lixo, bem como na realização de inquéritos a jovens sobre a questões ambientais, climáticas e de sustentabilidade. O inquérito, enquadrado na Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e o Pacto Ecológico Europeu, habilita os participantes a ganhar uma estadia dupla nas Pousadas de Juventude de Portugal e um passo duplo de intrarail. Para além disso, os participantes distribuíram material reutilizável aos inquiridos.
O quinto dia do evento teve como foco: “Superar as discriminações e desigualdades dos jovens face ao emprego”. O atelier “a mobilidade internacional e empenhamento cívico” foi moderado por Inês Souta, diretora da Organização Não Governamental Sol Sem Fronteiras e por Alexandre Ferreira, representante da AFS (American Field Service). O objetivo deste atelier foi de criar uma discussão em torno das experiências no âmbito do programa Erasmus, intercâmbios ou de voluntariado internacional. De uma forma geral, chegou-se à conclusão que tais experiências são sempre positivas na medida em que as competências adquiridas que delas advém vão ser importantes na procura de emprego.
Por sua vez, o atelier “O empreendedorismo como resposta ao desemprego dos jovens em zonas rurais”, foi conduzido por Célia Quintas, representante do AECT Duero Douro, que tem como objetivo criar projetos para o território transfronteiriço. Neste atelier abordou-se a fomentação de projetos a nível local e a valorização do espaço rural. Posteriormente, os jovens deram continuidade ao projeto comum, passado a uma seguinte fase: “Passar da ideia aos atos”.
Na segunda parte do dia, os jovens tiveram a oportunidade de visitar a Cidade de Caldas da Rainha. Num primeiro tempo, visitaram o Centro de Artes de Caldas da Rainha, nomeadamente o Atelier-museu António Duarte e o Museu Leopoldo de Almeida. De seguida, tiveram uma visita guiada pela cidade de Caldas da Rainha, que teve início no Parque D. Carlos I.
Para Pedro Gesteiro, um dos jovens participantes, estudante de desporto na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa e professor de educação física do primeiro, a cidade de Caldas da Rainha não foi novidade, pois é daí que é natural. O formato do evento idem, pois é a terceira vez que nele participa. Pedro descobriu o mesmo através da associação Sol Sem fronteiras, à qual pertence. “Felizmente ando a ser sempre selecionado”, confessou. “Gosto de conhecer novas pessoas, novas culturas e novas perspetivas de outros países”.
O último dia do encontro dos jovens teve o mesmo tema que o que havia sido abordado no dia anterior, mas com um atelier diferente: “Soluções para a inclusão de pessoas com deficiência”, que começou com uma atividade de grupo para trabalhar a confiança no outro. O objetivo era que um dos participantes guiasse o outro, cuja visão seria tapada. O atelier foi conduzido por Lisa Daudibon, licenciada em literatura, línguas e civilização (especialização em português) e, mais uma vez, por Clara Guimarães. Lisa explicou que “a deficiência é uma limitação da pessoa, que vê-se impedida de fazer muitas coisas”. A jovem deu o seu testemunho, confessando que “faz muitas coisas, apesar das limitações (motoras)”. As oradoras abordaram os diferentes tipos de deficiência (mentais, sensoriais, visuais e motoras) e propuseram aos jovens que apresentassem soluções para os grupos portadores dos diferentes tipos de deficiência, no seu quotidiano.
Adeline Afonso, lusodescendente estudante de mestrado de História Contemporânea das Relações internacionais na Universidade de Sorbonne em Paris, já viveu em Portugal e agora vive em França, onde nasceu. Adeline explicou que está consciente do quanto pode ser difícil encontrar um trabalho “quando se tem alguma deficiência física”, daí a importância do evento. Sublinha que foi quando se tornou Presidente da Juventude Europeia dos Estudantes de Paris em 2018 que se deparou, pela primeira vez, com a temática da deficiência. “Dois membros da associação tinham deficiências motoras e visuais. Pela primeira vez na minha vida pensei: vamos fazer um evento e tenho de ver se os locais têm acessos fáceis ou não e outros fatores. Nunca tinha pensando nisso antes e a experiência associativa permitiu-me confrontar-me com essa questão”, revelou. Adeline considera o tema deste ano “super importante para aprender mais sobre o assunto, pois no futuro pode vir a confrontar-se “outra vez” com o mesmo.
Por fim, os jovens apresentaram os projetos para os quais tinham trabalhado em grupo ao longo da semana. Os 3 grupos as 3 propostas distintas de projetos: O projeto “Integroeste”, que visa a criação de um centro de integração cultural, o projeto “Festa Inclui”, que resulta na organização de uma festa para dar visibilidade à comunidade de refugiados, e por último, o projeto “Água Vida”que procurava dar visibilidade e criar unificação entre locais e refugiados. Foi feito um balanço geral do encontro, onde os jovens tiveram a oportunidade de dar a sua opinião, apontando os aspectos positivos e negativos que vivenciaram.