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23 septembre 2025A Cap Magellan esteve na Paris Design Week 2025, um evento que valoriza o design durante uma semana na capital francesa. Entre os destaques do evento, encontramos a exposição Re.MADE IN PORTUGAL naturally, organizada pela AICEP (Agência para o Investimento e o Comércio Externo de Portugal), com uma cenografia realizada pela internacionalmente reconhecida Nini Andrade Silva.
Tivemos o prazer de conversar com Patrícia Dias Coelho, Fundadora e CEO da Rondinart, uma marca presente na exposição e onde cada peça de mobiliário é comparável a uma verdadeira obra de arte.
Cap Magellan: Boa tarde Patrícia, como está?
Patrícia Dias Coelho: Estou muito feliz por estar em Paris pela primeira vez com a Rondinart. Nunca imaginei que, apenas dois anos após criar a marca, estaria presente nesta mostra tão importante.
CM: O que significa para si estar em Paris para representar o design português, e sobretudo, a sua marca Rondinart durante a Paris Design Week?
Patrícia Dias Coelho: É um passo gigante. Paris tem um grande simbolismo no mundo do design e da arte. É a minha cidade favorita e estar aqui representando Portugal e a minha marca é um orgulho e um privilégio que nunca vou esquecer.
CM: Como surgiu o convite para participar nesta exposição?
Patrícia Dias Coelho: O convite veio por parte da AICEP, que me ligou e perguntou se eu não queria candidatar-me para a curadoria da Nini. Eu enviei as peças, das quais foi o Bar Campana que foi selecionado para estar presente nesta mostra. Fiquei muito contente, claro!
CM: Pode partilhar um pouco sobre o seu percurso antes de criar a sua marca em 2023?
Patrícia Dias Coelho: É um percurso interessante. Não é totalmente desligado do design e do mobiliário. Trabalhei quase 25 anos na área da construção. Durante esse tempo, ia criando peças personalizadas de mobiliário para clientes, sempre com grande paixão pelo design. Incentivada por eles, decidi finalmente criar a Rondinart em 2023, com o objetivo de unir design e arte portuguesa. A primeira peça da marca foi a Rondina Chair, uma cadeira de design meu, com costas feitas pelo artista João Bruno Videira em lã de Arraiolos. Cada cadeira é única, feita à mão, e tornou-se um ícone da Rondinart. A coleção Campana nasceu também desse mesmo espírito artesanal.
CM: Quais são as suas principais fontes de inspiração?
Patrícia Dias Coelho: Inspiro-me em tudo: viagens, pessoas, artistas, design internacional e principalmente no design brasileiro, com as suas curvas e madeiras nobres. Também admiro muito o design nórdico. Acredito que o meu trabalho reflete essas influências de forma natural.
CM: O que significa, para si, tratar o mobiliário como “arte no espaço” em vez de simples objetos funcionais?
Patrícia Dias Coelho: Exatamente porque a diferença entre arte e design está na funcionalidade. A arte, normalmente, não tem função; já o design é funcional. O meu desafio é unir os dois: criar peças funcionais com identidade artística. Essa arte vem da manufatura, do saber-fazer e da exclusividade de cada peça. Trabalho lado a lado com designers, arquitetos e clientes para criar peças personalizadas, carregadas de história e significado. Espero não fugir muito daí. Estou só no início, portanto, quero muito trazer e arriscar, mas sei que um dia vai acontecer um desafio daqueles que do erro sai “a peça”.
CM: Queria falar mais sobre a sua marca. Já disse um bocadinho como nasceu a Rondinart, mas de onde veio esse nome ?
Patricia Dias Coelho : “Rondina” significa andorinha em italiano. As andorinhas evocam a coragem, a união mas também o movimento e eu queria uma marca com esse simbolismo: uma andorinha que espalha arte por onde passa. “Art” vem do inglês, completando o conceito. A marca nunca anda sozinha, está sempre rodeada de colaboradores e artistas, como um bando de andorinhas.
CM: Qual peça melhor encarna a identidade da marca?
Patrícia Dias Coelho: A peça que melhor representa a Rondinart é a Rondina Chair, que deu nome à marca. Sempre imaginei criar uma cadeira versátil, com costas móveis que pudessem receber diferentes interpretações artísticas. Essa flexibilidade e o conforto são parte essencial do seu design. A Rondina será sempre um ícone da marca, mas já lancei outras peças, como a Troia Chair, e em breve apresentarei duas novas cadeiras na Arábia Saudita. Mais do que criar peças com design, busco sempre aliar arte e conforto. Essa é a identidade que quero manter em todos os meus trabalhos.
CM: Como escolhe os materiais?
Patrícia Dias Coelho: Acima de tudo, eu seleciono muito pela verdade. Priorizo materiais nobres, naturais e, sempre que possível, portugueses. Infelizmente, nem sempre temos matéria-prima nacional suficiente, mas procuro trabalhar de forma sustentável, aproveitando desperdícios de madeira, cerâmica e, futuramente, têxteis. A coleção Campana, por exemplo, nasceu da ideia de reutilizar sobras de carpintarias.
CM: Ao falar da reutilização, o tema da exposição é regeneração e inovação. Como aplica esses conceitos no seu trabalho?
Patrícia Dias Coelho: Quando crio uma peça, a sustentabilidade não é a primeira preocupação, mas depois procuro formas de reduzir desperdícios e aproveitar materiais. A coleção Campana, por exemplo, nasceu da inspiração dos Irmãos Campana e da observação dos desperdícios de madeira nas carpintarias. O objetivo é sempre reutilizar recursos e minimizar o desperdício, mesmo que essa ideia surja após o design inicial.
CM: Na sua visão, o que diferencia o design português internacionalmente?
Patrícia Dias Coelho: Eu tenho que ter humildade de dizer que o design internacional é riquíssimo. Temos referências incríveis no design nórdico, italiano, francês, japonês, brasileiro, entre outros. O que diferencia Portugal é a excelência da manufatura portuguesa. Cerca de 80% do que produzimos é exportado, e muitos designers estrangeiros recorrem aos nossos artesãos e fábricas pela qualidade do trabalho. Temos profissionais altamente especializados em marcenaria, pintura, lacagem e acabamentos, o que nos dá uma vantagem enorme. Não digo que somos melhores que os outros, mas temos essa riqueza do saber-fazer, que considero uma das maiores forças do design português.
CM: Que feedback espera do público em Paris?
Patrícia Dias Coelho: Seria maravilhoso que reconhecessem o meu trabalho e não só a peça que está exposta. Esse era o grande objetivo e que, quiçá, possa comercializar e ser representada aqui em Paris. Esse era o meu maior desejo com esta apresentação.
CM: Quais são os próximos objetivos da marca?
Patrícia Dias Coelho: Internacionalizar. Nestes dois anos tive muito apoio em Portugal, tanto da imprensa quanto de profissionais. Já temos presença em Nova Iorque e fizemos uma mostra em Madrid. Agora Paris, depois Arábia Saudita em novembro. São passos importantes para uma marca jovem.
CM: Onde podemos adquirir as suas peças?
Patrícia Dias Coelho: É sempre por contato directo online. Principalmente através do site ou Instagram, assim consigo conhecer o cliente e personalizar cada peça. Também temos algumas peças expostas em Lisboa, Nova Iorque e outros espaços físicos onde não estou diretamente presente, mas gosto que cada compra seja um processo próximo e feito à medida.
CM: Muito obrigada, Patrícia. Para terminar, que mensagem deixa aos jovens lusodescendentes?
Patrícia Dias Coelho: Tenho uma mensagem para os jovens lusodescendentes, assim como para todos os jovens: nunca deixem de sonhar e arriscar. Se eu, aos quase 50 anos, mudei completamente de vida e criei uma marca, vocês também podem. Experimentem, errem, mudem, mas estejam sempre em movimento e acreditem no que querem construir. Não deixem de acreditar.
Agradecemos novamente Patrícia por ter respondido às nossas perguntas.
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Entrevista realizada por Liliana Tavares Ribeiro,
de Tempestade 2.1 e
estudante em Mestrado Mercado internacional da arte contemporânea na IESA arts&culture
Publié le 12/09/2025




