18 edição da Semana das Culturas Estrangeiras
16 septembre 2019Aldeias do Xisto em promoção em Paris
18 septembre 2019O término das férias estivais ficou marcado pela notícia dos incêndios na floresta amazónica. Durante vários dias leu-se em diversos tabloides que “o pulmão do planeta está a arder”. Repentinamente, pessoas de todo o mundo começaram a reagir nas redes sociais partilhando artigos e vídeos dos incêndios.
A fumaça que deixou a cidade de São Paulo no escuro chamou a atenção e depressa fez-se a conexão com as queimadas nos estados brasileiros de Amazonas e Rondônia. A comunidade internacional, alarmada com a situação, decidiu replicar. O G7, que se reuniu entre os dias 24 e 26 de Agosto na cidade de Biarritz em França, concordou em desbloquear 20 milhões de dólares para financiar aviões Canadair a fim de combater os fogos. Decidiu-se igualmente que seriam apresentadas propostas para a reflorestação durante a Assembleia Geral das Nações Unidas no final de Setembro.
Vários países europeus também reagiram. Primeiro, o presidente francês Emmanuel Macron incriminou o seu homólogo brasileiro Jair Bolsonaro de ter mentido relativamente aos seus engajamentos para a proteção do ambiente e, consequentemente, a França não está mais disposta a assinar o acordo de livre-comércio UE-Mercosul que ficou concluído no final de Junho. O primeiro-ministro irlandês também se pronunciou com um discurso semelhante. Já a Alemanha e o Reino-Unido tiveram uma posição mais prudente e neutra. Por sua vez, o governo de Espanha, que foi um dos grandes negociadores do acordo de livre-comércio com o grupo sul-americano, afirmou a sua oposição ao bloqueio do tratado.
As primeiras perguntas que eu coloco são: quando é que começaram os incêndios massivos na floresta amazónica? No mês de Agosto? Foi preciso haver um “rio de fumaça” em São Paulo para que os jornalistas falassem do ocorrido? Será que é preciso chegarmos a uma situação alarmante para que a comunidade internacional decide reagir? Só agora os Europeus perceberam o quanto Bolsonaro é perigoso? A reação do Presidente Macron é particularmente grotesca… Desde Janeiro 2019, mais de 75 000 fogos tiveram lugar na floresta amazónica. Representa 84% mais incêndios de que o ano anterior. Esta situação já é conhecida há vários meses. Mas assinar um acordo com governantes autoritários desde que “avantaja” o business europeu não apresenta nenhum problema. Porém, segundo Macron, logo que esses governantes metem em perigo a qualidade e o conforto europeu, já não é possível negociar. Este ato de comunicação de Monsieur Macron só demonstra o quanto hipócrita podem ser governantes Europeus relativamente as suas relações com o resto do mundo.
Mas os líderes da Europa não são os únicos a demonstrar alguma hipocrisia. Quero relembrar brevemente as manifestações contra a eleição de Jair Bolsonaro que foram organizadas em Outubro 2018 em Paris. Nas manifestações, vi bastantes brasileiros e sul-americanos a protestar, porém poucos europeus se mobilizaram em defesa da democracia e da Amazónia. Bolsonaro, enquanto candidato, nunca escondeu a sua intenção de incentivar a desflorestação para o sucesso do agrobusiness. Pergunto então onde estavam os “bobos” europeus defensores do ambiente para apoiar a prevenção do aumento de queimadas e deflorestação na Amazónia e que agora criticam o presidente brasileiro nas redes sociais? Pois… Globalmente, os cidadãos europeus vivem numa bolha de conforto e só reajam quando esta está em perigo iminente – ou que o caso se torna “mainstream”. Alguém fala dos incêndios semelhantes que decorrem em Africa? Oh pois, ainda não fez o buzz na internet.
A falta de empatia de uma parte dos Europeus e a sua hipocrisia afeta as relações com os outros países. E a resolução dos problemas ambientais sofre com isso. Chegou o tempo de sermos mais altruístas e responsáveis para o bem do nosso planeta e do nosso futuro.
Adeline Afonso, autrice fédéraliste, libérale et indépendante
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