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26 février 2022O telefonema do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ao ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos Alberto Franco França, no dia 30 de janeiro, foi visto por especialistas como uma tentativa dos Estados Unidos de instar o Brasil a exercer maior pressão sobre a Rússia.
Em publicação no Twitter, o Itamaraty afirmou que, ao abordarem a situação na Ucrânia, Blinken e França concordaram com a necessidade de desescalada das tensões e de uma solução diplomática. O ministro Carlos França também agradeceu o apoio dos EUA ao início do processo de inclusão do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Na condição de membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil passa a ser um ator importante na busca pelo apoio a medidas tomadas pelos Estados Unidos em relação a sanções e ao conflito na Ucrânia. A opinião é de Denilde Oliveira Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM-SP.
Segundo Holzhacker, a aproximação norte-americana visa angariar o apoio brasileiro e reforçar que o Brasil pode pressionar Moscovo. “A posição do governo Bolsonaro tem sido a de tentar equilibrar os interesses do Brasil frente aos EUA, mas também frente ao comércio com a Rússia.” A especialista aponta que a capacidade de atuação do Brasil deriva muito de sua presença no Conselho de Segurança. “Isso pode garantir uma mudança de rumo, numa perspectiva mais diplomática e menos de acirramento. No entanto, a atuação do Brasil é limitada, pois a política externa de Brasília teve, nos últimos anos, um perfil muito menos ativo do que em outros momentos. O embaixador francês tem um perfil mais diplomático e tradicional, que pode colocar o Brasil em uma situação de protagonista, mas nossas capacidades ainda são muito limitadas.”
Por sua vez, Marco Antônio de Meneses Silva, coordenador do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Iesb, é cético em relação à materialização do protagonismo brasileiro. Ele lembrou que, apesar do credenciamento da dimensão da liderança regional exercida pelo Brasil, aliado à tradição na busca por soluções pacíficas em crises de segurança internacionais, não há condições efetivas para a mediação. “O retrospecto do governo Bolsonaro é desfavorável, tendo em vista a atuação, à época, do chanceler Ernesto Araújo, quando alianças e a participação diplomática brasileira, erigida ao longo das últimas décadas, foram preteridas por posicionamentos de teor fortemente ideológicos e pouco condizentes com as tradições da nossa política externa. O desafio de reverter o relativo isolamento da diplomacia brasileira é uma tarefa ainda em curso”, disse o professor do Iesb.
Cientista político da Faculdade de Direito da Case Western Reserve University, de Cleveland, Ohio, Juscelino Filgueiras Colares explicou que os EUA procuram ampliar o leque e as sanções que Washington vislumbra contra Putin e as lideranças russas.
Colares acredita que o Brasil, como potência agrícola, torna-se um aliado importante dos EUA: “Se forem impostas sanções com a Ucrânia ocupada, o papel do Brasil e dos EUA será o de coordenar restrições à exportação de alimentos para a Rússia.”
Mélanie Ribeiro
Fonte: Correio Braziliense
Retrouvez cet article dans le CAPMag de mars 2022.
Publié le 21/02/2022