Interview de “Les Amis du Fado”
22 août 2024La France toujours sans gouvernement
27 août 2024Certamente já ouviu o nome dele, David VARELA DE PINA é um dos nomes que se recordará destes JO 2024. Ele recebeu a primeira medalha olímpica da história de Cabo Verde mas também a primeira medalha de bronze para a nação cabo-verdiana. Cap Magellan teve a honra de fazer algumas perguntas, no final de junho, ao David Pina ,pouco antes da sua participação nos Jogos Olímpicos de 2024.
- O que significa para ti representar Cabo Verde nos Jogos Olímpicos de Paris 2024?
Para mim, ir aos Jogos Olímpicos de Paris é levar as dez ilhas de Cabo Verde comigo e mostrar a nossa força, a nossa cultura, a nossa garra e mostrar que temos condições e potencial de estar no maior evento desportivo do mundo. Para mim é um orgulho representar as cores da minha bandeira nos Jogos Olímpicos de 2024.
- Que desafios enfrentaste para te qualificares para estes Jogos Olímpicos?
Para conseguir qualificar-me para os Jogos Olímpicos passei por muitas dificuldades. Primeiro, na primeira fase de qualificação de Cabo Verde perdemos o combate. Eu queria desistir, fui para Portugal trabalhar nas obras, mas depois o meu treinador falou comigo e voltei. Fomos para a Itália e com uma pouca performance física perdemos o combate contra Hong Kong.
Eu queria desistir novamente porque faltava dinheiro e faltavam condições para treinar. Fui convencido pelo meu treinador a continuar, fui para a Tailândia e com o apoio do público cabo-verdiano que fez doações, ganhei esperança. Consegui então qualificar-me depois de muitos combates difíceis contra países melhores nesse desporto do que nós.
- Como é que te preparaste fisicamente e mentalmente para competir a um nível tão elevado? Alguma mudança na tua preparação comparado aos Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio?
A preparação foi muito importante. Fui à Tailândia fazer um estágio de 10 dias e isso mudou o rumo do resultado. Fizemos pares com atletas que já estavam qualificados e com atletas olímpicos igual a mim.
A diferença entre a preparação para os Jogos em Tóquio e Paris é que antes de ir a Tóquio eu treinava em Cabo Verde. Uma semana depois desses Jogos estagiei com o meu clube em Portugal, o Privilégio Boxing Club. A treinar com o meu treinador, obtivemos muitos resultados, e o objetivo era qualificar e conseguimos. O treino foi bem-feito, graças ao meu treinador Bruno. Foi com essa mudança que conseguimos qualificar por mérito próprio, e somos o único.
- Quais são os teus objetivos pessoais para os Jogos Olímpicos de 2024 em Paris?
O meu objetivo pessoal para Paris é obter uma medalha. Apresentamos um nível excelente em Bangkok: todos ficaram contentes com a nossa performance e disseram termos condições de conseguir uma medalha. Temos condições de obtê-la, mas falta-nos apoio e dinheiro. Isso dificulta um pouco chegar ao nosso objetivo, mas é possível.
- Como é que vês o papel dos Jogos Olímpicos no reforço dos laços entre Cabo Verde e o resto do mundo?
Para mim, ir aos Jogos Olímpicos é levar o meu país e mostrar para o mundo que existimos e que temos condições de estar no meio de países maiores do que o nosso. Devido a minha performance, pessoas passam a conhecer Cabo Verde. Pessoas que estão em Cabo Verde conseguem sentir a nossa vitória, e eu também consigo sentir a energia deles através dos apoios que vejo nas redes sociais. É muito importante.
- Enquanto atleta cabo-verdiano, como pensas que podes inspirar os jovens da sua comunidade lusófona a perseguir os seus sonhos desportivos?
Em 2021 deixei tudo para trás, sem qualquer coisa na maleta: nem dinheiro, nem nada. Vim perseguir o meu sonho em Portugal, um país desconhecido para mim, como só tinha vindo cá para fazer torneios. Deixei a minha filha e tudo que tinha construido com 25 anos em Cabo Verde para vir para Portugal e perseguir o meu sonho olímpico. Passei por muitos problemas, como falta de dinheiro e de lugar para ficar. Acredito que isso seja inspiração para qualquer um.
Deixei tudo e vim para um mundo desconhecido, mas consegui com muita luta. Isto é a prova que eles também conseguem e que tudo é possível. O segredo é não desistir e continuar a perseguir o nosso sonho, mesmo não sendo fácil.
- Vimos também que vieste a Paris, o quê que achaste da cidade e qual foi a tua experiência com a cultura francesa?
Paris foi importante para recarregar as energias e visualizar onde queria chegar. Foi muito importante ir a Paris.
Um dia fui passear à Torre Eiffel, ganhei o torneio lá. Pensei que tinha que voltar para Paris, e que tinha que ser nos Jogos Olímpicos. Quando voltei de Paris, treinei ainda mais e consegui qualificar-me. Gostaria de ir com mais tempo para passear e aproveitar, porque da outra vez fui só 3 dias, mas gostei muito, é bonito !
Entrevista da Vanessa Henriques
Foto: Cristiano Barbosa