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12 mai 2025
Badoxa em Paris: entrevista exclusiva
13 mai 2025Dia 13 de maio de 2025, o grupo NAPA vai representar Portugal na primeira semifinal da Eurovisão com a música Deslocado. A Cap Magellan quis falar com eles e obteve uma entrevista exclusiva para todos os lusodescendentes.
Cap Magellan: Olá Guilherme, Diogo, Francisco, Lourenço e João, vocês são os NAPA. Obrigada por ter aceito essa entrevista. Vocês vão representar Portugal na Eurovisão 2025 na Suíça que já começa com a semifinal dia 13 de maio e acaba com a final no próximo dia 17 de maio. Como é que se estão a sentir?
NAPA: Estamos a sentir-nos bem. Já chegámos à Suíça há alguns dias e já tivemos a oportunidade de ter o primeiro ensaio, a primeira experiência naquele palco gigante. Em geral, gostamos muito da experiência, acho que o ensaio correu bem. Era mais ou menos o que nós tínhamos imaginado. Claro que houve algumas alterações que vamos fazer agora para o segundo ensaio da manhã. Além disso, claro que temos explorado a cidade, feito algumas atividades assim à volta de Bâle e também muitas entrevistas, mas tem sido divertido.
CM: Venceram a final do Festival da Canção em Portugal, com a música Deslocado. Estavam à espera dessa vitória?
NAPA: Não estávamos muito à espera, na verdade. Apanhou-nos assim um bocadinho de surpresa. Gostávamos muito da nossa canção, mas a concorrência era muito forte também, havia muitas canções boas. Para quem viu também o festival, percebeu que aquilo foi mesmo até a última da hora, até a última votação, ninguém sabia quem aqui ia ganhar.
CM: A música Deslocado é considerada hoje como o hino dos estudantes. Para nós, que somos lusodescendentes, é mesmo uma música que ressoa. Foi evidente apresentar essa música para o Festival da Canção?
NAPA: Acho que no início não era assim tão evidente, porque esta canção nem era inicialmente para este projeto da banda. Estava a pensar fazer outro projeto só com música sobre a Madeira e tinha esta canção lá nesse monte de canções.
Quando recebemos o convite fomos assim discutindo e vendo que canções é que poderíamos mandar. Arranjamos outras opções, mas só que esta fez mais sentido, porque fala sobre a nossa história. Somos todos da Madeira e todos fomos estudar para Lisboa quando tínhamos 18 anos, todos passámos por esse processo de deslocado. Portanto, para representarmos-nos num festival tão importante como o Festival da Canção, acho que fez sentido. Chegámos a essa conclusão de levar esta música tão importante com uma mensagem que nos dizia tanto.
CM: Esta música tornou-se completamente viral no TikTok. De que forma é que isto está a impactar a vossa carreira?
NAPA: Aquilo que nos apercebemos em Portugal em relação ao TikTok foi que realmente ficamos muito contentes com isso e nem estávamos nada à espera que a coisa pegasse assim. Realmente percebemos que aquilo que nós passamos, de vir da Madeira para Lisboa para estudar, é uma coisa que muita gente passa ao sair da sua terrinha para ir estudar nas grandes cidades, família que vai para fora para procurar melhores condições, ou é forçada a sair de um sítio, ou procura outras coisas noutros países, etc. Percebemos que essa mensagem, essa história que é nossa, não é só nossa, é de muitos portugueses e também estamos a perceber que é de muitas pessoas europeias e não só. Portanto, para nós é uma alegria ver aqueles vídeos todos, até que chegamos a pedi-los já há pouco tempo para o próprio videoclipe.
CM: Como é que vocês estão a preparar para esta atuação na Eurovisão? Vocês têm algum ritual que vos ajude a centrar-se antes de entrar no palco?
NAPA: Nós éramos uma banda bastante pequena, de nicho antes disto, e nunca tínhamos sequer pensado numa experiência deste género. Portanto, a preparação tem sido bastante intensa, porque é um nível de exposição e de produção muito maior do que nós estávamos habituados. Essa transição de banda de nicho para a Eurovisão é um processo intenso. É um salto muito grande. Mas sentimos também que temos uma equipa à nossa volta muito competente e muito forte. Tanto o nosso management como a equipa da RTP, que nos tem ajudado imenso.
Quanto ao ritual, temos uma cançãozinha que fazemos sempre, não fazemos nos ensaios mas fazemos pelo menos nas performances. Temos uma canção que o Joffre fez que não podemos revelar. A melhor maneira de ver é num vídeo que postamos no YouTube, que é um concerto nosso no Maria Matos, que está muito bem filmado já agora.
CM: Como é que vocês vêem o papel da música portuguesa no panorama internacional?
NAPA: Acho que a música portuguesa tem sempre um lugar especial na Eurovisão. Isso também tem a ver com a forma como a RTP escolhe as canções. Acho que isso é bom porque traz sempre algo novo. Parece que o Festival da Canção é mais direcionado não tanto para o “fogo de artifício” que é a Eurovisão, mas mais direcionado a canções e isso traz uma perspectiva diferente. É uma direção que dá sempre um ar fresco à Eurovisão.
Só em relação ao impacto da música portuguesa da Eurovisão no panorama internacional, acho que não é por acaso. Todos os artistas da Eurovisão fazem dois vídeos para o YouTube, que é o A Little Bit More, uma versão da sua música e um cover de outra música qualquer. Não foi por acaso que este ano tivemos a Ucrânia e a Letónia a fazerem músicas portuguesas. Acho que a comunidade internacional olha para isto e dá valor à música portuguesa que tem competido na Eurovisão e isso para nós também faz-nos sentir bem. A música portuguesa tem sempre algo que não é igual às outras, por assim dizer. A língua portuguesa também acaba de ser partilhada através da música.
CM: Voltando sobre a vossa carreira, a banda NAPA foi criada em 2013 sob o nome Men on the Couch. Inicialmente cantavam em inglês. Porque decidiram voltar ao português?
NAPA: Criámos essa banda quando tínhamos 16 anos e ouvimos muitas bandas em inglês, tipo indie rock e rock e essas coisas assim. Começámos a escrever também, quase por imitação se calhar, em inglês, porque era o que nós mais ouvíamos. Sendo o compositor da banda, depois deu-me um clique uma vez para começar a escrever em português. Percebi que é em português que me conseguia expressar melhor e conseguia dizer as coisas como eu sentia mesmo, de uma maneira mais genuína e criativa e mais autêntica. Quando me deu esse clique, foi quase de uma música para a outra,. Deu-me o clique e nunca mais me apeteceu escrever em inglês.
CM: Como é que surgiu o nome NAPA?
NAPA: Nós éramos os Men on the Couch e fizemos o switch para escrever em português e cantar em português. No primeiro álbum ainda lançamos como Men on the Couch, mas só tínhamos uma música em inglês, portanto já se via esse shift a acontecer, mas no segundo álbum é que decidimos mesmo mudar o nome e mudar tudo para português do início ao fim. Aí decidimos mudar o nome da banda e até tivemos algumas dúvidas se era a escolha certa, porque já tínhamos alguma malta a seguir que tínhamos medo de perder ou de não conseguir traduzir esta mudança, não ser bem aceito.
NAPA surge de uma lista de 200 e tal nomes de bandas. Digo sempre isso, mas escolher o nome de uma banda nova é pior que vir à Eurovisão. Acho que foi o nosso maior desafio. Surge no estúdio onde estávamos a gravar o segundo álbum e a falar com o dono do estúdio sobre a mudança de nome. Ele sugere que podia ser NAPA. Napa em português é um tecido usado para revestir sofás, então havia essa ligação com o Couch. Também era um nome curto, quatro letras, duas delas A, portanto, fica na memória, rola na língua.
CM: Quais são as vossas maiores influências?
NAPA: No início, aquilo que começamos quando formamos a banda eram covers de bandas que batiam na altura, como os Arctic Monkeys, os Kings of Leon, Red Hot Chili Peppers, MGMT, XX e essas coisas assim. Depois as influências também foram mudando com o tempo. A nível de escrita, muita música brasileira me influenciou também a compor em português.
Há uma banda portuguesa, os Capitão Fausto, também é uma grande inspiração para nós, porque acho que é assim a grande banda hoje em dia portuguesa, que mostrou que escrevendo em português, se as canções forem boas, é possível fazer uma carreira como banda e sem dúvida eles foram uma grande inspiração.
CM: O vosso primeiro LP, Senso Comum, foi financiado por um crowdfunding e financiamento independente. Qual era o objetivo na época? Por que fazer participar o público além dos concertos?
NAPA: Basicamente porque nós não tínhamos dinheiro. Nós não estávamos associados a nenhuma editora, a nenhum label. Como dávamos poucos concertos, porque não éramos muito conhecidos, não tínhamos dinheiro nosso suficiente para investir em algo como um disco, que é um investimento grande. Também aprendemos que é muito mais caro do que achávamos que seria. Depois de gravar um disco, não é só gravar um disco. É preciso ter a capa, é preciso ter videoclipes, misturar, masterizar. Aprendemos muito também. Se lançarmos um disco sem uma promotora ou sem alguém que nos consiga divulgar o disco, também pode passar um bocadinho ao lado do público. Por isso esses custos vão acumulando e, no fim, gasta-se muito dinheiro a fazer um disco. Como nós na altura não tínhamos muitos concertos e não éramos muito conhecidos, decidimos fazer o crowdfunding e correu maravilhosamente. Ultrapassamos até o nosso objetivo inicial e pedimos uns brindes também para cada patamar de apoio, que foi o merchandising do álbum que vinha a seguir. Também, quando se abre o CD estão os nomes das pessoas que apoiaram. Foi uma forma de homenagear também as pessoas que possibilitaram esse primeiro álbum e que nos lançaram, de certa forma, no mundo da música.
CM: O disco Logo Se Vê, em 2023, foi um sucesso. Marcou uma diferença na vossa carreira. Sentiram que houve um antes e um depois?
NAPA: Sim, até houve um entre esses dois discos. Foi um espaço grande em que nós pudemos crescer como banda, dar concertos e houve o Covid também, entretanto. Depois de lançarmos esse primeiro álbum é que percebemos que as pessoas gostavam da banda e que era uma coisa mais a sério.
Nesse segundo disco, decidimos arriscar um bocadinho, não foi um risco assim tão grande mas o tipo de composições era mais complexo, mais experimental e mais aventurado. Acho que também aí conseguimos fazer arranjos mais complexos. Percebemos que conseguimos e que as pessoas iam gostar. Para nós foi muito importante esse segundo álbum.
Algo que aconteceu também no segundo álbum foi associarmos a uma agência. Também permitiu que déssemos mais concertos e facilitou esse processo todo dos concertos, de chegarmos a cada vez mais sítios. Isso também foi importante porque depois acaba por ser uma bola de neve das pessoas vêm-nos ao vivo, vão ouvir mais, depois querem ouvir mais ao vivo portanto isso para nós também foi importante.
CM: Também fizeram colaborações com vozes femininas, nomeadamente como Beatriz Pessoa e Silly. O que é que isso acrescenta à vossa música, à vossa estética musical?
NAPA: Acho que essas colaborações surgiram bastante naturalmente. Para a música com a Silly, nós queríamos alguém do mundo hip-hop e nós gostávamos muito da Silly que não conhecíamos pessoalmente. Mandamos uma mensagem no Instagram a dizer que tínhamos uma música com uma parte vazia, a meio, já tínhamos pensado em alguém no mundo hip-hop e pensámos em ela porque achávamos que encaixava bem o seu tipo de escrita e o seu tipo de flow. Ela ouviu, gostou e participou. Foi assim! Nem nos conhecíamos pessoalmente antes e daí criámos uma ligação através da música.
A Beatriz Pessoa também foi a mesma questão: criamos um dueto quase com uma música de amor e criamos quase uma música conversada. Fazia sentido ser uma voz feminina porque era uma história de amor entre um homem e uma mulher. Falámos com a Beatriz, que não conhecíamos na altura, e ela aceitou o desafio e também ficou incrível.
Penso que o contraste entre uma voz masculina e uma voz feminina em ambas as músicas acrescenta algo à música, dá-lhe mais corpo. Para nós é sempre uma oportunidade de poder colaborar com outras pessoas no mundo da música, sejam artistas mais pequenos ou maiores. É também uma oportunidade para nós crescermos como músicos, porque estás num estúdio com uma pessoa que tem uma abordagem diferente à música ou uma forma de compor também diferente ou de escrever diferente e acrescenta muito às músicas quando existem essas colaborações entre artistas. Principalmente a Silly que é outro universo, outro planeta e dá essa perspectiva diferente.
CM: Vocês já têm alguns planos após a Eurovisão?
NAPA: Nós temos colaborações no futuro a acontecer, sem dúvida, mas infelizmente também não conseguimos dar muita informação sobre isso. O que podemos garantir é que logo a seguir à Eurovisão vamos ter uma música nova, a sair muito em breve, para dar seguimento também a esta jornada e mostrar que também não somos só deslocados e também sabemos fazer outras músicas.
CM: Vamos continuar a seguir de perto a vossa aventura. Vamos também votar já que estamos fora de Portugal!
NAPA: Sim votam, é a canção número 7, do nosso Cristiano Ronaldo.
CM: Para acabar, a pergunta que faço no final de cada entrevista: têm uma mensagem para todos os jovens lusodescendentes?
NAPA: Nós recebemos muitas mensagens de emigrantes e lusodescendentes de França e de tanta parte da Europa e do mundo a dizer que se identificavam muito com a canção, que sentiam que, apesar de viverem fora de Portugal, carregavam essa saudade bastante portuguesa de casa, do sol e do mar. Tem sido muito comovente também ver essas mensagens quase diárias de pessoas que chegam de todos os cantos do mundo. A todas essas pessoas o nosso maior obrigado. Isso dá-nos uma motivação muito grande também para continuar e para acreditar que fazer música genuína, autêntica e do coração vale a pena.
Ver todos os portugueses que estão aí espalhados pelo mundo e pela Europa, principalmente, acho que mostra também que não estão sozinhos. Há muita gente aí que está fora de casa. Esta música, como falamos há bocado, quase se tornou um hino, por alguma razão. Há muita gente aí, portanto, procurar esse tipo de comunidade pode ser uma ajuda para muita gente. Partilhem a música, partilhem a localização, partilhem a vossa história, a vossa mensagem, que às vezes podem estar ao lado de alguém que também está na mesma situação e fazer amigos fora de Portugal, através da nossa língua e da nossa história de Portugal. Estamos juntos.
Só para acabar, se forem à Madeira, venham dizer olá!
CM: Fica combinado então obrigada! Se vierem a Paris também avisam.
Não se esqueça de seguir a semifinal e a final da Eurovisão, apoiar os NAPA e votar pela canção número 7!
Também pode seguir os NAPA nas suas redes sociais: Instagram, TikTok, Linktree.
Entrevista realizada pela Ana Rita de Oliveira,
e a Julie Carvalho, de Os Cadernos da Julie.
Publié le 12/05/2025.